Ainda é Janeiro e 2020 já me está a parecer um ano que promete espalhar o caos e a confusão na cabeça dos cidadãos.
No mundo, já tivemos um atentado terrorista dos EUA a um alto militar do Irão, atentado esse que animou uma tensão tremenda entre ambas nações - que por 'acidente' bem podia resultar numa guerra, dado o nível de insanidade que impera nas lideranças dessas nações - e que, devido ao facto da Europa não possuir uma política externa própria e independente, também ameaçava arrastar o velho continente para o meio daquela loucura. Os líderes políticos europeus bem que se podem queixar do Donald Trump, mas, como insistem fazer há mais de 70 anos, no final do dia, fazem exactamente aquilo que Washington manda. Portugal tem sido um clássico exemplo disto. Por outro lado, temos agora aquilo a que chamam um surto epidémico, na sequência do qual a Organização Mundial de Saúde da ONU (instituições pelas quais tenho grande respeito) já declarou estado de emergência internacional de saúde pública. Tudo isto graças a uma epidemia a que chamam coronavírus, que já infectou mais de 8000 e matou algumas centenas, tendo a China como nação originária deste alastramento, e que tem causado grande reboliço aqui na Europa. Se me perguntarem - e compreendo e aceito perfeitamente o especialista em medicina que venha ler isto, considerar que quem o escreve é um grande grunho - acho que tudo isto não passa de uma trovoada que ao longe ribomba e que se silenciará num instante. Mas não pense o leitor que eu tenho aversão pela comunidade chinesa e que sou indiferente à população de Wuhan, isso eu não admito. Mesmo anteontem, não fossem os funcionários notificar-nos que o buffet estava prestes a ficar fora de serviço, eu e a minha mãe tínhamos almoçado no Restaurante Chinês aqui de Portalegre, sem a mínima reserva. A verdade é esta: todos os invernos há novas epidemias e gripes a serem noticiadas, e todas elas prometem ser a vinda de Satanás. Veio a gripe das vacas loucas, veio a gripe das aves, a gripe A, soaram alarmes com o Ébola (que em África é um caso verdadeiramente grave), depois ainda veio a Legionella, e agora temos esta... até que, em breve, se deixe de falar nela porque a estória já foi esgotada e esmifrada, precisamente como sucedeu com as outras epidemias mencionadas. A comunicação social precisa de vender notícias e as farmácias precisam de vender medicamentos, e para que a máquina rode há que lhe dar gás, e nada comum a ambos os domínios da sociedade pode vender tanto como uma epidemia ocasional. É uma parceria. Eu aprendi a não confiar muito nos periódicos alarmes de gripes e epidemias porque sei o que sectores de saúde e muita comunicação social - e a Igreja já agora - disseram do HIV nos anos 80. Qualquer epidemia deve ser enfrentada sem medo nem alarmes desnecessários. Quando a histeria suplanta a razão, é aí que devemos temer. Que a China contenha o surto, que cá na Europa, um continente onde existem condições de saúde e higiene incomparáveis, continuaremos a viver os nossos dias na maior normalidade... pelo menos assim é que devia ser.
Fora do mundo, cá por casa, na República Portuguesa, também tem havido muita confusão deliberada. Ora é a novela da deputada Joacine (que se revelou uma triste política) com o LIVRE, ora são as bacoradas ocasionais proferidas pelo deputado André Ventura, e a militância assumidamente nazi que o segue. E enquanto Ventura dá tudo por tudo para se assemelhar ao maior imbecil do mundo, não tendo respeito por nada ou ninguém, nem se quer por Portugal, a República vai assobiando para o lado, achando que é só pose, ou que não devemos leva-lo a sério. Se bem me recordo, essa foi precisamente a mesma estratégia usada para encarar Trump ou Bolsonaro antes de estes chegarem ao poder. Também a filha do antigo Presidente de Angola tem dado muito tema de conversa, uma vez que - sem nenhuma surpresa da minha parte - há suspeitas que ela seja uma criminosa financeira do mais alto nível. É estafante, e mais estafante se torna quando sentimos (entenda-se eu) o dever de ouvir o comício do José Miguel Júdice (juro que um dia destes lhe dedico um texto), semanalmente, na SIC. Eu ouço-o para estar a par, claro, daquilo que vai na cabeça da Direita conservadora e reaccionária de Portugal, e deixem-me dizer que é horrivelmente fascinante. E por falar em Direita, também as novelas da guerra do poder que tem tido lugar, neste mês, no CDS e no PSD, têm sido, apesar de previsíveis, deveras hilariantes e dignas de objecto de entretenimento. O Francisco Rodrigues do Santos, alias Chicão, apresenta-se como o novo macho alpha da política portuguesa, prometendo uma Nova Direita que cortará todas as cabeças da hidra da Esquerda portuguesa. Quanto a mim, ficarei na primeira fila assistindo à sua épica e valorosa aventura. E enquanto tudo isto acontece, tem havido a ocasional agressão, o recorrente homicídio, e as tensões raciais erguem-se, tímidas, uma vez por outra. Este mês tem sido tudo, menos entediante.
E no turbilhão de toda esta massa de acontecimentos, eu paro, os meus olhos limitam-se a tentar observar, a tempo real, os fenómenos humanos que estão em andamento, e aquilo que eu julgo observar não é reconfortante. Sinto os humanos cederem, lentamente, às promessas de ordem e alegada segurança, em troca da sua liberdade. Poderão dizer-me que eu não devo viver na ilusão de saber o que é melhor para as pessoas. Embora considere que isso não é argumento, entendo perfeitamente essa resposta, todavia, falamos de liberdade, e não autorizo ninguém a vender a minha liberdade em troca da sua própria ordem ou segurança. Em Portugal, uma nação que está no pódio dos países mais pacíficos e tranquilos do mundo (e não sou eu que o digo, são as agências internacionais especialistas no assunto), tenta-se vender a ilusão de que a violência enche as ruas de sangue, como se em São Paulo estivéssemos, e que nós próprios nos afogamos nesse sangue, e que a única salvação do afogamento será se recuperarmos a tradição dum Portugal totalitário e repressor, encabeçado por um novo Chefe, um novo Salvador da Pátria. A tragédia de tudo isto é que há cidadãos a comprar esta ilusão. Compram ilusões como se compra ópio. São aquilo que podemos chamar de hipocondríacos políticos. Nas ruas, tem sido difícil encontrar ousadia em sonhar com maior liberdade, com intuitos revolucionários, com aspirações por um mundo sem messias, profetas, deuses ou demónios.
Tudo isto não passa de pensamentos que eu submeto no meu Pensatório, para que um dia não enverede na desgraça de os deixar cair no Oblívio.
E no turbilhão de toda esta massa de acontecimentos, eu paro, os meus olhos limitam-se a tentar observar, a tempo real, os fenómenos humanos que estão em andamento, e aquilo que eu julgo observar não é reconfortante. Sinto os humanos cederem, lentamente, às promessas de ordem e alegada segurança, em troca da sua liberdade. Poderão dizer-me que eu não devo viver na ilusão de saber o que é melhor para as pessoas. Embora considere que isso não é argumento, entendo perfeitamente essa resposta, todavia, falamos de liberdade, e não autorizo ninguém a vender a minha liberdade em troca da sua própria ordem ou segurança. Em Portugal, uma nação que está no pódio dos países mais pacíficos e tranquilos do mundo (e não sou eu que o digo, são as agências internacionais especialistas no assunto), tenta-se vender a ilusão de que a violência enche as ruas de sangue, como se em São Paulo estivéssemos, e que nós próprios nos afogamos nesse sangue, e que a única salvação do afogamento será se recuperarmos a tradição dum Portugal totalitário e repressor, encabeçado por um novo Chefe, um novo Salvador da Pátria. A tragédia de tudo isto é que há cidadãos a comprar esta ilusão. Compram ilusões como se compra ópio. São aquilo que podemos chamar de hipocondríacos políticos. Nas ruas, tem sido difícil encontrar ousadia em sonhar com maior liberdade, com intuitos revolucionários, com aspirações por um mundo sem messias, profetas, deuses ou demónios.
Tudo isto não passa de pensamentos que eu submeto no meu Pensatório, para que um dia não enverede na desgraça de os deixar cair no Oblívio.