Introdução a este endeavour: Antes de me atirar de cabeça à tarefa que me aguarda no resto do mês - depois de um mês de hiato, dedicado à reflexão, ao divertimento e à leitura -, e que terminará antes de 6 de Outubro, tarefa essa que consiste em correr os partidos da Assembleia da República, duma ponta à outra, fazendo uma pequena (espero eu) análise histórica e actual de cada um desses partidos, notifico que nenhum destes textos procura o máximo rigor politológico, nem procura escamotear as minhas convicções ideológicas no quadro da interessantíssima política portuguesa. Não obstante a parcialidade (imparcialidade é uma utopia) destes textos (e julgo eu que, quem me bem conhece, sabe o quanto isto é óbvio), este será um trabalho que terá sempre em conta os factos. Com isto também não estou a dizer que cada frase escrita seja um facto incontornável, vamos ter calma, nem perto. A ordem cronológica dos textos será apresentada num estilo idêntico àquele que eu usava, quando era muito mais novo, à refeição, durante o prato principal: começava por aquilo que gostava menos e terminava naquilo que gostava mais. Aplicando este método avançadíssimo, deixo a Esquerda para o fim. Aviso também que, num momento ou outro, não prometo que estes textos não sejam indigestos para determinados leitores, da mesma forma que acho indigesto ouvir o José Miguel Júdice à hora do jantar. Vamos a isto!
Francamente, é um nome muito pouco interessante ou esclarecedor para se dar a um partido. Será que é essa a intenção? Nada no nome do partido sugere o espectro político ou a orientação ideológica do mesmo, algo que sempre achei altamente irritante em certos movimentos políticos. Mais, o nome deste partido, CDS, mente, mas mente mal. Alega ser do Centro quando os seus militantes e eleitores querem estar o mais longe dessa zona do Espectro, e claro, é senso comum saber-se que o CDS é de Direita. É, aliás, o partido mais direitista na Assembleia da República. Do ponto de vista económico é um partido que procura o formato mais Liberal possível dum Sistema Capitalista, sendo um acérrimo defensor do mundo das Corporações económicas, e por conseguinte, da privatização da Economia. É partido que, apesar daquilo que pode alegar hoje em dia, nunca esteve minimamente preocupado com as questões ecológicas e ambientais. Do ponto de vista social, é um partido claramente conservador com um passado - recuando ao século XX - de intolerância a ateus e homossexuais, por exemplo. O campo social conservador do CDS está assente nos valores da tradicionalista família. No campo cultural e filosófico, é um partido totalmente imbuído no Catolicismo e tudo o que tal significa, com algumas amenizações ideologicamente instauradas com a vinda do século XXI, mas não muitas. Sejamos francos, já começava a parecer mal um partido do status quo defender certas excentricidades de pensamento, mas ainda têm um longo caminho a percorrer. O cavalo de batalha continua galgando contra o "perigo" da autodeterminação da identidade de género, o aborto, e a eutanásia, ou como tal deputada idiota deste partido disse em tempos no Parlamento, "homicídio a pedido". Colocando tudo isto numa concha, o guia ideológico do CDS é a Doutrina Social da Igreja, trazida, primeiramente, pela encíclica Rerum novarum publicada em 1891 pelo Papa Leão XIII, que, para além de estabelecer as bases que iriam determinar as frentes de batalha da Igreja Católica nos tempos modernos - oposição ao Liberalismo, ao Feminismo, ao Socialismo, ao Comunismo, à Social-Democracia, ao Modernismo, ao Hedonismo, à Contra-cultura - tenta sugerir que é uma encíclica anti-capitalista. Claro que hoje sabemos que isso é mentira. Claro que hoje sabemos que o CDS, em pleno direito, é um partido pró-capitalista. Como dizia um cartaz que vi na altura das Eleições Europeias, com a cara do Nuno Melo: "Aproveitar bem o dinheiro da Europa".
A história eleitoral do CDS na Assembleia da República é irregular, tendo tido baixos e altos, e tendo, inclusive, constituído governos de coligação. Teve dois líderes, bastante relevantes na História Política portuguesa recente, e que, creio, tinham a característica comum de darem o dito por não dito. Falo com certeza de Freitas do Amaral e de Paulo Portas. Quem pode esquecer as declarações de Freitas, durante as Presidenciais de 1986, em que afirmava que não era de Esquerda ou Direita?! Houve gente que foi nessa cantiga, daí os 48%. Também ninguém pode esquecer o episódio irrevogável de Paulo Portas, em que no XIX Governo, saiu pela porta das traseiras, deixando a pasta dos Negócios Estrangeiros (a cheirar a submarino trafulha, possivelmente), e entrou pela porta grande - apesar de tal coisa ter sido dada como irrevogável pelo próprio - como Vice-Primeiro Ministro. Voltando aos Governos de Coligação, o mais recente foi com o PSD no XIX Governo Constitucional, entre 2011 e 2015. (Sim, estou a omitir o que veio a seguir, mas o que interessa, nem tiveram tempo de desfazer as malas. O XX Governo terminou num instante, e havia um Ministro da Administração Interna que metia medo ao susto chamado João Calvão da Silva). No que a sondagens concerne, há 4 meses que não há uma firma de sondagens que dê mais de 7% ao CDS, e uma vez que o PSD de Rui Rio não tem a mais ténue vontade de, por enquanto, fazer acordos formais com o CDS, quer-me parecer que a coisa vai ficar por aqui. Quanto ao eleitorado regular do CDS, este é constituído, essencialmente, por cidadãos com pequenos ou grandes terrenos agrícolas, cidadãos altamente católicos e conservadores, quer seja de classe burguesa ou trabalhadora, cidadãos um pouco saudosistas dum Portugal mais virado para o 24 de Abril, ou então por cidadãos, que na contenda entre o Estado da República e as Grandes Empresas, no Campo de Batalha da Economia e Finança, torcem pelo Big Business e pelo Mercado sem lei.
Abordando a cara do partido nestas eleições, esta pertence a uma senhora, advogada de profissão e doutorada de formação, ex-Ministra da Agricultura e do Mar, denominada Assunção Cristas, que, recentemente, também tentou bater Fernando Medina na corrida à Câmara de Lisboa. Assunção Cristas é a típica figura política da qual esperar algo de extraordinário de nada serve. É uma oradora medíocre, é uma comunicadora aborrecida, é uma debatedora péssima - não durava 10 minutos com o Hitchens - e alguém cujo percurso político é muito pouco admirável, sendo que a sua estadia da citada pasta (em cima) foi, factualmente, curtamente vivida por razões de natalidade. Valerá a pena assinalar alguma hipocrisia que rodeia a figura da Doutora Cristas. Quem pode negar as vastas campanhas do CDS a favor da vastíssima plantação de eucaliptos - uma árvore altamente inflamável, muito plantada, contudo, devido à sua grande rentabilidade no plano do Capital - por esta Nação fora, e que tornou Portugal num autêntico monte de lenha? É neste cenário que Cristas veio, à laia dos Incêndios, criticar a Esquerda devido à excessiva existência de eucaliptos na floresta portuguesa, curioso, todavia, que foi a mesma Assunção Cristas que, aquando da sua estadia ministerial, passou um decreto-lei, em 2013, permitiu a liberalização da plantação do eucalipto. Quanto a mim, são estes actos que dizem muito sobre um governante. Não podia também deixar de fora o momento, há uns dias, num debate promovido na SIC Notícias, quanto questionada sobre o porquê do CDS ter promovido a petição pública contra a lei de protecção de jovens transgénero, e qual sua posição relativamente a tal assunto, Cristas ter, com a maior determinação, evitado responder ou abordar a questão. Por falar em dissimulação... Assunção in a nutshell!
No presente momento, o CDS detém 18 deputados na Assembleia da República. Ou muito me engano, ou o que acontecerá a este partido católico será: manter, descer um máximo de dois deputados, ou subir um máximo de dois deputados, devido ao número que poderá recolher dos deputados perdidos pelo PSD (mas esse é o capítulo seguinte). Mas, para o CDS, no dia 6 de Outubro, nada irá mudar muito. Todavia, o que realmente poderá mudar, após estas Legislativas, será uma mudança de liderança, no futuro próximo, dentro do CDS, por uma opção ainda mais desviada à Direita, dirigida pela TEM (Tendência Esperança em Movimento), uma facção altamente desagradável dentro do partido, que, tendo ímpeto, poderá significar o verdadeiro advento da Alt-Right e dum lusitano Tea Party na República Portuguesa.
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