domingo, 2 de junho de 2019

Game of Thrones (livre de spoilers)

A minha relação com o mundo fantástico de George R. R. Martin, vivido numa série literária e televisiva intitulada Game of Thrones, é algo atípica e peculiar. É-o, essencialmente, pela forma como me foi introduzida a série, pela forma como decidi ver a série (neste texto só abordarei a série, uma vez que nunca li os livros), e pela quantidade de tempo em que estive em contacto com a série, enquanto ela durou.

Fui introduzido a Game of Thrones no ano 2016, altura em que, precisamente, estava a decorrer a 6ª Temporada, pelo meu amigo Miguel Carvalho, e então já a série era um fenómeno mundial, e muita gente no meu círculo a via. Eu confesso não ter ligado a mínima importância a Game of Thrones, infelizmente. Com os Beatles aconteceu o mesmo. O facto de algo ser um fenómeno mainstream a nível mundial, sempre me 'protegeu' contra certo tipo de literatura, música ou cinema. Por vezes protegendo-me mal. Foi durante este semestre, que findou há poucos dias, que eu decidi ver a série, coincidindo com a altura em que foi lançada a última temporada. O meu raciocínio - exactamente o mesmo raciocínio que eu formulei para começar a ouvir Beatles, há três anos - foi o seguinte: "Se tanta gente, de todo o mundo, de tantas idades e sensibilidades ideológicas, adora isto, eu tenho de lhe dar uma oportunidade. Verei o primeiro episódio da 1ª Temporada. Se gostar, continuarei. Se não, logo se vê." E assim foi. Certa noite, durante a semana de interrupção da Páscoa, quando a nenhum dos meus amigos e amigas apetecia sair de casa, decidi ver o primeiro episódio. Afirmo que não tenho forma para explicar o quanto arrependido fiquei por não ter entrado neste Universo mais cedo. Em duas semanas tinha devorado as 7 temporadas e estava a acompanhar a 8ª em tempo real. Ainda vi os três últimos episódios em tempo real. Sem presunção, ainda hoje não consigo conceber como é que, no ano 2019, há tanta gente a adorar algo que faz tanto o meu género. Não quero dizer que a série me pertence a mim primeiro. Tal coisa seria um disparate. Quero antes dizer que a verdade é que muitas das coisas e temas que gosto e adoro não são apreciadas por tantas pessoas - mas, felizmente, Game of Thrones é. Nunca pensei que, nos meus 20 anos, me visse tão entusiasmado por um Universo alternativo.

Chega de mim. Quanto à série em si, há tanta coisa que posso considerar como pontos altos. Os diálogos são extraordinários (até ao final da 5ª temporada, após isso passam apenas a ser bons). O elenco, apesar de não estar carregado de estrelas internacionais, é impecável. Kit Harrington (Jon Snow), Emilia Clarke (Daenerys Targaryen), Sean Bean (Eddard Stark), Charles Dance (Tywin Lannister), Conleth Hill (Lord Varys), Lena Headey (Cercei Lannister), Michelle Fairley (Catelyn Stark), Richard Madden (Robb Stark), Jack Gleeson (Joffrey Baratheon), todos eles são digníssimos de menção, pelo brilhante serviço que prestaram à Cultura e às Artes Cénicas. Também todo o enredo, que espelha a luta por poder e por domínio territorial - que, no final de contas, é a História da Humanidade - é desenhado num pormenor soberbo. Inclusive, as reminiscências que espaços de Westeros, e além de Westeros, têm com espaços históricos do mundo real, estão representadas de forma singular. Meereen fez-me lembrar o Egipto Faraónico. Braavos fez-me lembrar Rodes. Os Dothraki fizeram-me lembrar a horda mongol de Gengis Khan. O Norte fez-me lembrar a Grã-Bretanha Medieval. Os Lannister fizeram-me lembrar, um pouco, a cultura do Império Romano. A conquista lendária de Aegon Targaryen I fez-me lembrar (e, de facto, segundo o próprio Martin, em tal é inspirada) a Conquista de Inglaterra e Gales pelo Rei fundador de Inglaterra, William I, The Conqueror. As cenas de acção estão também feitas magistralmente (embora a última temporada esteja excessivamente dependente em efeitos especiais). Os diálogos que mais me marcaram foram sem dúvida aqueles que envolviam Robert Baratheon, Ned Stark, Tywin Lannister, Jamie Lannister, Varys, Olenna Tyrell, Daenerys ou Oberyn Martell. Também temáticas, como a separação entre a Igreja e um Estado, ou o preconceito para com aqueles que são diferentes (as perseguições a Tyrion Lannister ou a Loras Tyrell são disso exemplo), são exemplarmente abordadas. Em suma, poderei afirmar que um dos grandes temas de Game of Thrones é "as acções têm consequências".

Concluindo, podia falar em como houve um decréscimo na qualidade da série, mas são poucas as coisas perfeitas. Deixo-me por aí a esse respeito. Ao contrário de outras pessoas, não fiquei desiludido de todo com o destino que o Trono de Ferro teve (em sentido polissémico). No final, ficou com o mais puro indivíduo de Westeros. Ainda que os acontecimentos que levaram a isso tenham sido desenrolados demasiadamente rápido.

Claro que um agradecimento a Ramin Djawadi também vem a propósito. Game of Thrones não seria a mesma coisa sem a sua épica banda sonora.

Por fim, quem ainda não viu, mesmo que já esteja inundado de spoilers, por favor, veja. Vale mesmo a pena! Felizmente, só fui exposto a três, e só um é que era relevante.

"Fire and Blood"

"Winter is Coming"

Sem comentários:

Enviar um comentário