Numa nota pessoal - à semelhança de outras que virão, brevemente, com data marcada -, quem aqui escreve tem, de momento, muitas poucas certezas. Sem certezas sobre o que aí vem. Sem certezas sobre o altruísmo humano (e o seu em particular). Sem certezas se está bom ou mau tempo. Todavia, a falta de certezas que aqui traz quem escreve, a esta nota pessoal, é a incerteza sobre o ofício da escrita. Quem aqui escreve, portanto, está sem certezas se aquilo que escreve tem inteligência, ou tem eficácia a chegar à mente de quem lê, ou, até, se tem valor estético e/ou literário.
Quem aqui escreve tem pensado nos últimos dias se tem, se quer, competência para conduzir este blog que já viu meses mais dinâmicos. Quem aqui escreve não consegue ter certezas, na raiz das suas capacidades, se tem as aptidões literárias e comunicativas bastantes, conduzidas pela sua paixão pela Língua Portuguesa, que lhe valha a consideração de cidadão português que tem domínio pelo próprio idioma. Quem escreve já teve mais certezas quanto a isto. Para alguém que adora ler, escrever, comunicar com outras pessoas, são dúvidas que, quando surgidas, provocam uma grande agitação intelectual e um grande complexo de incerteza e de auto-crítica, que tornam o próprio adormecimento um acto ainda mais complicado do que já é. Então quem aqui escreve dá por si a pensar: será que José Saramago, o Nobel da Literatura, que nunca necessitou de frequentar o Ensino Superior (eventualmente gostaria, mas na juventude nunca reuniu as condições financeiras para isso) para ser um colosso da Língua Portuguesa, alguma vez colocou as suas aptidões literárias e comunicativas em causa? Será que George Orwell, ou Christopher Hitchens, enquanto escreviam os seus ensaios, construídos por imensa vivência e investigação, alguma vez puseram os seus talentos, e as suas canetas em causa? Não estou a ver Hitchens, no pináculo da sua irreverente presunção saudável, a colocar em causa a construção das suas frases. E Fernando Pessoa? Será que ele se quer algum dia parou para pensar que escrever não era para ele? Eu, caminhando sobre os ombros destes gigantes, tenho de me colocar em causa.
E de onde vem isto? De onde vem esta epifania de interrogações ante a própria essência estética desta escrita em português? Estas questões são pulsadas por quem, de estatuto mais elevado, dita sentenças sobre que estilo de escrita entra, ou não entra, nos portões da Academia. São questões postas eventualmente ao longo da estrada. Há palavras duras. Há palavras suaves. Há palavras cujo único desígnio, nem destrutivo, nem construtivo, queira ou não queira o seu transmissor, é implantar a dúvida. É semear a estática. Remete-me a esta extraordinária frase do Professor Albus Dumbledore: "Words are,
in my not so humble opinion, our most inexhaustible source of magic, capable of
both inflicting injury and remedying it". Por irónico
que seja, este que aqui escreve, que, apesar da jovem idade, faz de tudo para
continuar a escrever em português e não em acordês, coloca dúvidas à sua
própria escrita - e já houve tempos em que ousou sonhar que poderia aqui estar o
novo grito da Literatura Portuguesa -, através de alheios terceiros que nunca
ousaram um segundo para o conhecer.
E agora um par de olhos
observa o que aqui está escrito, e pensa: "isto não está mau de
todo"... mas já não tem certezas a esse respeito.
Talvez, numa escala de 0
a 4, isto não valha mais que um -1, ou um -2... talvez.
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