Na perspectiva de um jovem socialista do Século XXI, são estes os prós e contras dos resultados eleitorais das Autárquicas 2021. E como gosto de deixar o melhor para depois, primeiro os contras.
Contras:
- A CDU não definha somente no plano parlamentar, pois também a nível autárquico a derrocada é uma auto-evidência.
A nível nacional, com mais 400 mil votos, perdeu 23 mandatos autárquicos (em vereadores e autarcas) relativamente a 2017, tendo agora apenas 148. Em deputados municipais a CDU perdeu mais de uma centena.
No Município de Évora, sede do Alentejo, apesar de Carlos Pinto de Sá ter mantido a presidência da Câmara, a CDU perdeu a maioria absoluta no executivo camarário tendo agora o mesmo número de vereadores que o PS: 2.
No Município de Portalegre, a CDU ficou sem o vereador que tinha no executivo camarário, e na Assembleia Municipal, tendo eleito 4 deputados em 2017, agora o Professor Amândio Valente ficará politicamente sozinho, sendo o único deputado eleito em 2021.
No executivo camarário do Município de Lisboa e na sua Assembleia Municipal, a CDU, apesar de não ter perdido mandatos, também não os conseguiu aumentar.
O mesmo que afirmei para o Município de Lisboa serve para o Município do Porto.
- O Bloco de Esquerda continua incapaz de aumentar a sua expressão autárquica nacional, condição sine qua non para que o BE se consiga cimentar em todos os territórios portugueses, criar bases de apoio fiéis nas zonas rurais e maximizar a sua capacidade política para impulsionar transformações socioeconómicas fundamentais para a República Portuguesa.
Nos Municípios de Lisboa e Porto, o número de vereadores e deputados municipais eleitos manteve-se o mesmo relativamente a 2017 - 1 vereador nas Câmaras de Lisboa (vereadora neste caso) e Porto, 3 deputados no Porto e 4 deputados em Lisboa.
O BE perdeu 8 vereadores e 32 deputados municipais a nível nacional. Agora, os únicos vereadores eleitos estão nos Concelhos de Lisboa e Porto, contando apenas com 93 deputados municipais em todo o território.
No Município de Portalegre, onde o BE tinha conseguido pouco mais de 100 votos para Câmara e Assembleia, em 2017, este ano o número desceu para metade.
- O Partido de André Ventura - o egomaníaco homem multiplicado por todos os cartazes de campanha do seu gangue - conseguiu eleger 19 vereadores e 172 deputados municipais em toda a República, tendo conquistado mais de 200 mil votos. Ainda que não tenha havido nenhuma Câmara ou Junta de Freguesia ganha, estas já são circunstâncias de que o Chega precisava para aumentar a sua influência política e para fortalecer as bases de apoio que, desgraçadamente para nós, já tem. Eu não exagero quando digo que cada mandato autárquico conseguido por este partido fascizante é um tiro disparado contra a República e a Democracia.
Prós:
- Nem o PS nem o PSD conseguiram fazer um raide de domínio no território nacional. Nenhum dos dois partidos do status quo conseguiu alcançar uma supremacia indiscutível na vida autárquica da República Portuguesa e isso significa que outros partidos poderão participar em soluções de governação local.
- No Município de Portalegre, Adelaide Teixeira foi destronada e isso já é alguma coisa, ainda que, vendo a coisa de outra perspectiva, a CLIP tem manobra para participar na governação autárquica em acordo camarário com os vitoriosos do PSD.
- O Chega não conquistou uma única Câmara ou Junta de Freguesia e André Ventura passou pela humilhação eleitoral de ser derrotado em Moura na sua candidatura à presidência da Assembleia Municipal onde nem conseguiu ser eleito deputado.
- O CDS não está apenas em vias de desaparição de relevância política parlamentar, também a cena autárquica está cada vez mais fúnebre.
Em candidaturas solitárias o CDS baixou de 41 para 30 mandatos autárquicos.
Quanto às Assembleias Municipais, o CDS perdeu 67 deputados.
Verdades incontornáveis:
- O domínio bipartidário do PS e do PSD mantém-se e perpetua-se. É esta circunstância um dos primeiros aspectos que alguma vez consegui identificar na política nacional, ainda tinha eu 14 anos - o facto de ao longo de mais de quatro décadas a massa dos eleitores insistir com os mesmos dois partidos que desde 1976 têm governado Portugal, quer estejamos a falar do Governo da República ou do poder autárquico. É uma vicissitude quase hipnótica. Os eleitores afirmam votar nas pessoas e não nos partidos quando se trata de Eleições Autárquicas, todavia, não é isso que vejo. O que vejo é mais do mesmo, e uma insistência descontrolada em votarem no Bloco Central. E quando não fazem isso fazem ainda pior: ou não votam ou então votam no retrocesso histórico.
- A mudança de mãos da Câmara Municipal de Lisboa não vai aquecer ou arrefecer nada. Sai Medina, do PS, entre o Moedas, do PSD, e cumpre-se mais uma vez o ciclo vicioso tão querido da Capital da Nação.
- O Município de Portalegre não será salvo por esta via.
- Se o Partido Comunista não admitir que algo grave se passa com as suas perspectivas futuras de existência política, aquilo que muita gente como eu teme irá acontecer - o fim. Mude-se o Comité Central! Acabe-se com o Centralismo Democrático! Que se regresse às origens clássicas do Marxismo! Soltem a veia revolucionária e vão para cima do Chega como se não houvesse amanhã, como se tratasse do próprio Salazar!
- Se o Bloco de Esquerda não voltar a ser um partido plenamente radical, se não abandonar algumas tendências americanizantes no núcleo do partido, e não vier ao encontro das pessoas, nas cidades e nas vilas, em busca de sangue novo, então não mais haverá crescimento no movimento, e também no BE começará o definhamento.
- Será insensato pegar nos resultados eleitorais deste sufrágio e daí fazer uma previsão do que acontecerá nas Eleições Legislativas de 2023. O futuro poderá ser melhor ou pior que os resultados das Eleições Autárquicas 2021.
- A taxa de abstenção, ainda que não tenha superado os 50% de eleitores, é, todavia, preocupante para a saúde da República. Um dos desafios maiores dos nossos dias é chamar Portugal para a intervenção política. A classe política falha consecutiva e tragicamente neste domínio.
Lues, 5 de Vendemiário CCXXX
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