sábado, 3 de novembro de 2018

Escuridão (poema)

Lanço este poema na comemoração do seu segundo aniversário. Escrito por mim, em Portalegre, num tempo já distante onde era outro quando o escrevi. Quanto a mim, permanece das coisas mais significativas que escrevi até hoje.

Os olhos são fechados
Os sentidos são redobrados
Em mim as Trevas pairam
Cheiramos, saboreamos, ouvimos e sentimos
Actuamos em base dos iluminismos
E de mim minhas memórias abalam

Escuridão é o autêntico dos Mundos,
Sem Sol para nos iluminar,
Sem artificialidade para nos contemplar
E sem orientação para nossos comandos.

A Luz é a revelação
Que embora tudo esteja no oculto,
Nossos ídolos, eles virão
E formarão nosso íntimo culto.

Não tenho medo do escuro.
Minha sanidade tem um furo.
Aprecio a honestidade nas pessoas.
Com luz, com os pássaros, voo!

Se as Trevas fossem separadas da Luz
A brutalidade da sociedade revelar-se-ia.
Eles bem que até se podem esconder com um capuz
Mas nunca poderão ocultar sua esquizofrenia.

Portanto, Grandes Líderes, hora de acordar
Enxerguem a multidão em luta
Porque quando este dia chegar
Não poderão ser salvos da força bruta!

A Escuridão descenderá sobre a Terra
E só os redimidos se iluminarão!
Purificada será esta terra
Que, por enquanto, nós pisamos em vão!

A memória é a força
Da nossa acção!
Temos de libertar-nos da Escuridão.
Tempo galopa como uma corça.

Mas eu fico imerso
Neste submundo diverso.
Uns já sentiram a Escuridão,
Outros jamais a sentirão.

Porque pensar significa sofrer
E quem me dera não saber,
Que cinzenta é a dimensão,
Mas eu sinto-me na Escuridão!

E desde que escrevi
Esta última linha
A esperança já não é minha,
Já faz parte a outro tempo que vivi.

A realidade de antes
Não é mais o agora.
Olho para muitos amantes
E não vejo a minha hora.

Foi um golpe muito violento
Perdi o equilíbrio e caí
Esta é a mudança que trás vento
Não foi o Vento da Mudança que eu senti

Porque nas Trevas não há vento
E eu já não aguento
E peço que ninguém me minta
Mas, creio, a verdade não foi dita

E assim permaneço na Escuridão
Vítima da minha própria opressão
E embora haja quem diz "Não"
Será o verdadeiro "eu" que terão!

E estou eu errante
Neste túnel deixando-me horrível.
Vejo o rio passar, incessante!
Descobri que a vida é irreversível

Aquilo que hoje é feito
É irreversível e nunca será desfeito
E se falhas naquilo que adoravas
Caminharás para o fecho de Trevas

O Fugitivo foi agarrado por ele!
Ele, o Senhor das Trevas, com seus olhos vermelhos
E é nesta ausência de luz, O Invencível!
Que apareça o revolucionário e dê Luz
E que a incida sobre estes mortos espelhos,
E ninguém precisa de Jesus!

Vem acima minha loucura
Numa tristeza sem cura,
Graças às circunstâncias - Escura!
No coração há uma faca que perfura!

No horizonte o Sol descende
Lá no alto a Lua colapsa
E só vemos o Lado Negro - Uma força!
Espero, revitalizo, mas a aurora não ascende

No obscuro silêncio há um grito
Esse grito é o silêncio.
O amor está hirto
Mas eu ainda te reverencio.

Há memórias que são desvanecidas
Há mortos que fazem disso vidas
Há apocalipse nas metrópoles
Sangue puro corre nas mãos deles

E ainda há literatura feliz
Numas vidas artificiais
Em que vós ignorantes viveis!
Sofrer platónico - Não quero mais

As sombras alastram-se na imensidão!
O Tempo pára para os seres
E estes espectros se adensam
Sem felicidades para veres

Caminhar na penumbra
Sem protecção que me cubra.
Meus amigos são o escudo
E eu de direcção mudo,
Mas não estou mudo
"Vocês, para longe da linha de fogo
No desconhecido muito há em jogo"

A Escuridão é indefinível,
Uma leitura não legível
Uma carta ao impossível
E peço que me deis luz

Sem dúvida que faz jus
A todas as espectativas criadas
E de todas as definições, sobre Trevas, dadas
São por mim estas as seleccionadas

Diferente dos outros, sobre estas Trevas
Eu caminho e quilometro este meio.
Reconciliação está no caminho que veio,
Etapa e corrida dolorosa deveras,
Mas quando me referi ao Final
Talvez fosse ao da Escuridão que me referia afinal.


22 de Outubro a 3 de Novembro de 2016

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