segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Faltas sem Ética no Parlamento - O Estranho Caso Silvano

José Silvano e Emília Cerqueira, enaltecidos Deputados da Nação desse partido cheio de muita ordem, proposta e ideias alternativas, que é o PSD, andam a gozar com a cara do português. José Silvano e Emília Cerqueira atiram areia aos olhos do cidadão, vitimizam-se, atacam, ofendem quem trabalha, são indignos de exercer o órgão de soberania em que foram investidos. Silvano falta por duas vezes à sessão plenária, mas ainda assim consta como presente na lista de presenças. Enquanto Silvano se passeava por Vila Real e outros sítios, em trabalhos políticos com certeza, alguém, que se vai pelo nome de Emília Cerqueira, estava no parlamento a certificar-se de que Silvano era, ainda assim, marcado como presente. Silvano tinha de comparecer a uma Comissão, na AR (Assembleia da República), sobre a transparência política, e que faz ele? Marca presença e vai-se embora, agindo em completa impunidade, contorcendo e dispondo das regras da casa democrática onde trabalha. E para quê marcar uma presença no parlamento quando podia justificar essa falta com actividade política? Para, ainda assim, receber no bolso a compensação de 69 euros, por motivo de deslocação, da qual desfruta por burocraticamente residir em Vila Real.

Foi uma semana em que se viveu no mais obscuro mistério: como poderia Silvano ter duas presenças no Parlamento, sendo que, pelo menos fisicamente, nunca lá tinha estado essas duas vezes? Alguém teria acesso à sua palavra-passe de deputado que, de acordo com os estatutos da Assembleia da República, é intransmissível? O estranho caso de José Silvano foi descortinado pela sua testa de ferro sob forma de uma deputada, Emília Cerqueira, que, após ter sido apanhada pela comunicação social, primeiro negou e Sexta-feira finalmente confessou: foi esta senhora deputada que usou a palavra-passe secreta e intransmissível de José Silvano e lhe marcou a presença. Mas claro, a Emília não confessou isto de forma recta - ofendeu, resmungou, deu 15 minutos de conferência de imprensa completamente zangada, claramente contrariada por estar a esclarecer o país, e lá veio com a desculpa do "foi sem querer!", alegando ainda que, na AR, os deputados partilham, entre si, as suas palavras-passe INTRANSMISSÍVEIS, possivelmente para fins como este... que desordem e que falta de ética. Francisco Sá Carneiro teria vergonha destes deputados do partido que fundou! Mais ainda, esclareceram os serviços da AR, presididos por esse grande estadista que é o Ferro Rodrigues, que as palavras-passe são de facto intransmissíveis, mas podem ser partilhadas... Ora, para os Deputados da Nação, que mais significados haverá para "intransmissível"? Com a língua portuguesa não estarão a jogar, com certeza.

Sei eu muito bem o que aconteceria ao cidadão comum se mentisse como estas duas pessoas mentiram durante uma semana. Sei eu muito bem o que aconteceria ao cidadão comum se fizesse esta sorte de falcatruas no seu local de trabalho. O mais grave de tudo são duas coisas: a primeira é a forma como se mentiu compulsivamente sobre este caso, como Silvano e Cerqueira continuam a ir até ao tutano para saírem ilesos (e vão sair porque nenhuma penalização lhes cairá em cima); a segunda foi um grande silêncio generalizado que se sentiu por esse parlamento, e o silêncio sepulcral do Presidente Rotativo Marcelo - silêncio deste Chefe de Estado aliás incomum, visto que este está sempre a comentar casos concretos (e bem), mas este decidiu não comentar... claro, havia do Chefe de Estado meter ordem na Casa? Só se ouviu uma única voz plena e claramente crítica, naquele parlamento, a da Coordenadora do BE, Catarina Martins, que, e muito bem, classificou toda a situação como triste. E é muito triste. É de quase perder a esperança, ante a arrogância desta gente... mas o Verde da Bandeira da República determinou que é a Esperança a última a morrer.

Contudo, apesar da minha esperança, cego não estou, pois sei muito bem que tipo de gente habita o órgão legislativo do meu país, e quem desculpar isto é cúmplice, na mesma medida em que Silvano e Cerqueira são repositórios de uma culpa de vergonha. Começo a compreender porque é que há partidos que se tornam em autênticos desertos de ideias - andam a fazer umas batotas e esquecem-se das suas funções políticas. Também começo a perceber, com grande tristeza, quais foram as instalações da escola de corruptos como José Sócrates.

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