sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Machado na TV

A aparição do líder da Nova Ordem Social (o nome da organização até dá arrepios) Mário Machado, no programa matinal da TVI, Você na TV, causou vasta indignação entre uma franja da sociedade portuguesa, entre os quais está a minha corrente política. A indignação face à própria possibilidade de uma carreira política para Mário Machado é compreensível. O ideário desta nova organização - que reflecte a própria ideologia por detrás de Machado - assenta em pressupostos ultra-nacionalistas de racismo e xenofobia, nos quais a democracia, a liberdade social e a equidade meritocrática económica, entre os cidadãos, estão comprometidas. Uma síntese para esta organização de "ultras" da Direita política descreve-se em um nome: António de Oliveira Salazar.

Mário Machado e a sua Nova Ordem Social querem regressar a um Portugal fascista (a recusa da democracia por eles é clara quando se referem aos restantes como "os democratas") que espelhe a visão corporativista, ultra-conservadora social e ultra-nacionalista de Salazar. Evidentemente, ninguém que preze a democracia e a liberdade individual, no seu perfeito juízo, quererá algo deste género! Mas sabendo o que é a organização, e sabendo o que é o passado violento e criminal, de associação a grupos Nazis, de Mário Machado, que se aborde a questão ética do momento: foi correcto o Você na TV encenar aquela entrevista?

Eu confesso que, tendo em conta como Manuel Luís Goucha conduziu a conversa, essa tal indignação a mim não me assistiu. Poderá parecer mentira, mas terei mesmo que 
pela primeira vez tirar meio chapéu a Goucha, equacionando só aqueles minutos de conversa. Machado foi confrontado com factos históricos básicos e elementares, remontando ao Estado Novo e à 2ª Guerra Mundial e na prática encolheu-se, fazendo-se passar por um rapazinho simpático que apenas gosta muito do Professor Salazar. O jornalista que estava ao lado dele é um idiota revelado. Sendo ele um funcionário num órgão de comunicação social independente, afirmou que Salazar poderá ter tido um papel positivo na instauração da ordem e da autoridade no país. Pelos vistos também cá há malta que quer vender a liberdade por essa tal ordem. Todo aquele teatro de Machado não me convenceu, de qualquer das formas, ele dificilmente promoveu a sua imagem. O ambiente não esteve muito propício para isso. O coroar de todo este teatro foi quando o Goucha, afirmando que vivia com um homem há vinte anos, perguntou se Machado tinha algum problema com isso, e Machado respondeu: "Se tivesse não estaria aqui". Eu desmanchei-me à gargalhada! Eu também posso ser um camaleão se me apetecer. Qualquer um pode olhar para o passado recente do indivíduo Machado e achará a resposta, ou tão revoltante, ou tão hilariante como eu a achei.

Portanto, a TVI tem a liberdade de convidar indivíduos de toda a estirpe política. Liberdade de expressão em democracia é isso mesmo. Já expressei ponto de vista similar no texto A Web Summit é organizada por fascistas?. Em simultâneo, assistimos em televisão o quanto ridículo um fascista pode realmente ser, só com o intuito de parecer amigo de todas as minorias, desfazendo-se à pressa do seu traje nazi. Posso estar a parecer demasiado optimista, mas a entrevista deu-me genuína graça. E garanto a quem estiver a ler isto que os "ultras" da Direita não vão vingar neste país de Língua Portuguesa, mas isso será assunto para daqui a poucos meses.

E, claro, Bom Ano Novo 2019... de acordo com o calendário gregoriano. Bem que podia ser o ano 2771 e estarmos a pouco mais de três meses de fazer a passagem para o ano 2772, mas Cultura e História são isso mesmo.

Feliz Ano Novo, e aí estaremos

1 comentário:

  1. Sabes, Xavier, eu acho que quem quer encontrar Salazar tem bom remédio: - Basta dar um tiro na cabeça.
    No entanto, também acho que muitos maus políticos, muitas políticas absurdas, têm contribuído para o endeusamento do ditador. Bom Ano para ti!

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