Fernando Medina, Presidente da
Câmara Municipal de Lisboa, teve (ou emprestaram-lhe) a óptima ideia de inaugurar um
museu dedicado à História da expansão marítima portuguesa. Só é pena que o nome
que tenham pensado dar ao dito museu seja péssimo: Museu da Descoberta. A
palavra "descoberta", por si, já é ambígua e vaga, pior ainda quando
essa palavra, enquanto nome titular de um museu, remete ao termo
Descobrimentos. Infelizmente, ninguém disse a Medina, ou ao resto dos indivíduos
que entendem que é uma boa ideia esta conversa de dar tal nome a um museu, que
Descobrimentos, na historiografia portuguesa, é um conceito atrasado e com bafo
a Salazar. E porquê?
Descobrimentos foi um termo criado, para a nossa
historiografia, para enaltecer - dar um toque de epopeia - à expansão marítima
de Portugal. Antes de mais, nem Portugal, ou qualquer outra nação europeia,
descobriu maior parte dos locais para onde navegou. Muitas vezes pronuncia-se o
chavão de que a América foi descoberta pelos espanhóis e os portugueses, no
século XVI. A verdade é que já havia autênticas civilizações (incas, aztecas,
maias) que tinham imensos conhecimentos, que em certos aspectos ultrapassavam a
ciência na Europa, para não falar de que a primeira vez que europeus estiveram
na América foi no final do século X, nem foi durante os ditos descobrimentos.
Em suma, Descobrimentos é uma forma historiográfica incorrecta e eurocêntrica
de interpretar a História, metendo a Europa num papel de heróis absolutos da
civilização, descobridores do mundo, quando no outro lado do mundo, por
exemplo, já havia uma nação como a China, com uma História milenar.
Claro
que não podemos olhar para a História da Europa com o mesmo olhar de ética do
século XXI. São realidades incomparáveis numa distância temporal de 500 anos.
Coisas como a escravatura, por mais hediondas que nos soem no nosso século,
eram admitidas como normais se feitas com povos indígenas ou africanos. Em
todo caso, para não ficarmos presos à mesma visão pedante que nos tem
perseguido, para termos uma historiografia mais acertada e universalmente
inclusiva, devemos esquecer disparates como o termo Descobrimentos – como se a
Europa tivesse andado aí a descobrir o território mundial todo – e adoptar
termos e conceitos que façam mais sentido, porque apesar de tudo, nomes
importam. Sugestões? Museu da Expansão Marítima Portuguesa tem muito mais
sentido, e historiograficamente é mais acertado… fica a sugestão. Para rematar
com dois pontos, digo que esta ideia que aqui apresentei sobre “descobrimentos”
é muito mais que “esquerdismo saloio”, e se tiverem dúvidas, falem sobre isto
com angolanos e brasileiros para ouvirem o que eles pensam do assunto, e
sublinho também – e isto é muito importante – que, para acabarmos com esta “História
dos Descobrimentos”, temos de começar nas salas de aula e nos currículos
educativos que, gritantemente, ainda insistem na mesma narrativa que era feita
no tempo do Estado Novo. Não se trata de termos vergonha da nossa História,
trata-se de sermos verdadeiros com a nossa História!
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