segunda-feira, 16 de julho de 2018

Ronaldo, Juventus, Agnelli e Proletariado

Cristiano Ronaldo, um dos melhores futebolistas do presente século, deixou por fim o Real Madrid e procura agora novo triunfo na Juventus de Turim. E por incrível que pareça, este evento grande no mercado de transferências é mais do que um evento grande no mercado de transferências do football internacional, extrapolando-se para uma questão que diz respeito à sociedade em geral. Acontece que a família que possui a Juventus, os Agnelli - os Kennedy de Itália como têm sido chamados - também possuem a empresa de automóveis Fiat, na qual imensos trabalhadores estão empregados. 

Volta e meia, os proprietários da Fiat (os Agnelli) congelaram subsídios e mantiveram os salários baixos dos operários da Fiat, enquanto se deram ao luxo, no outro investimento, chamado Juventus, de gastaram rios de dinheiro na compra e manutenção do jogador de football Cristiano Ronaldo. Evidentemente, Ronaldo não tem qualquer culpa desta ausência de ética. Ele é futebolista, limita-se a fazer o trabalho dele, com ou sem consciência do que se passa na sociedade em torno dele. O problema aqui - e muitos dirão o previsível que eu sou - são os patrões de todo este grupo económico, os Agnelli, lá está. Os mesmos patrões que mantêm a fasquia baixa nos vencimentos do seus trabalhadores das fábricas da Fiat, fazem um investimento milionário com um jogador de football. O mais surpreendente de tudo isto são as expressões de surpresa face à greve convocada por estes trabalhadores, na consequência desta balança de dois pesos. 

Eu acho isto triste. E já ouvi e li os argumentos que dizem que Ronaldo vai trazer muito dinheiro para este grupo económico, através do merchandising, das bilheteiras, da publicidade e dos possíveis triunfos da Juventus, e tudo isso é muito certo, ainda assim eu lanço uma afirmação e ponho uma questão: Os Agnelli, como patrões capitalistas, nunca se irão preocupar, apesar dos lucros que o Ronaldo trará, com o aumento do vencimento dos seus operários. É sempre assim que funciona. Não o fizeram até aqui e não o farão no futuro. Por outro lado, porque é que patrões como os Agnelli sempre se sentiram confortáveis em fazerem investimentos milionários em publicidades e coisas extravagantes (e já sei que são estas coisas extravagantes que fazem este bicho papão, a que chamam Mercado, girar), e sempre se sentiram muito desconfortáveis em serem justos e gratos para com os trabalhadores que lhes produzem a riqueza? Creio eu que o Capitalismo é isto mesmo, e quem a isto quiser fugir bem pode tentar ser um eremita. 

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