quarta-feira, 22 de agosto de 2018

A Web Summit é organizada por fascistas?

Falando um pouco sobre liberdade de expressão, no momento actual, é possível tomar a Web Summit como caso de estudo. Na Web Summit, o evento internacional dedicado à tecnologia de ponta, e que  tem sido realizado em Lisboa nos últimos anos - cimeira esta cujo objectivo é apresentar uns quantos projectos e daí tentar fazer uns quantos negócios - são convidadas imensas personalidades, não só ligadas ao ramo da tecnologia como também a outras áreas de relevo, como a economia e a política. Para a cimeira do próximo ano, que continuará a ter lugar em Lisboa, a organização decidiu convidar a antiga candidata à presidência da República Francesa, Marine Le Pen. Em síntese, surgiram críticas alegando a insustentabilidade das ideologias nacionalistas da senhora perante a cimeira, e a organização decidiu desfazer o convite a Marine Le Pen, ficando esta em águas de bacalhau.

Ainda relativamente à liberdade de expressão, o que é possível retirar daqui? A primeira questão é interrogarmo-nos sobre a natureza ideológica de Marine Le Pen, e averiguarmos se a senhora é defensora de genocídios em massa em protecção de uma qualquer raça (ou outra coisa qualquer). Não é, pelo menos nunca verbalizou tal coisa. Tem convicções nacionalistas que roçam na xenofobia, no racismo e noutras coisas feias? Têm um sistema de raciocínio que em muitos aspectos se aproxima do fascismo? Estas duas últimas inquirições, pelo menos no meu ponto de vista, são verdadeiras, e digo desde já, indesejáveis para um mundo civilizado. Mas apesar das ideologias neo-fascistas de Marine Le Pen, nada justifica a sua censura dos fóruns sociais, porque liberdade de expressão não é censura e opressão. Uma coisa em que eu penso é: se a Web Summit achou por bem a falta de chá em desconvidar a senhora com base nas suas ideologias, após estar sobre pressão de inúmeros quadrantes sociais e políticos, porque é que a convidou em primeiro lugar? Não saberiam que a senhora Le Pen era uma simpatizante fascista? Claro que sabiam, logo acharam por bem convidá-la. Estando uma pessoa convidada, e depois ser despachada porque há alegações quanto à perigosidade das suas ideologias, e nada mais, sem nada mais ser esclarecido, é uma atitude contra a liberdade de expressão, é um acto de censura, e em nada é diferente das atitudes dos totalitaristas. É similar à situação do professor Nogueira Pinto na FCSH, há dois anos, para ser franco, e quem não conhecer ou não se lembrar da história, retroceda dois anos nas notícias.

Se desejamos combater o fascismo, nunca o faremos censurando e oprimindo os xenófobos, os homofóbicos ou os racistas. Combate-se o fascismo trazendo essas pessoas aos fóruns de debate, argumentando e inundando essas pessoas de factos e bom senso, e convencendo-as de que a liberdade é o bem mais precioso do ser humano. A verdade é que esses grandes liberais que são os organizadores da Web Summit, e as eminências pardas que fizeram o lobby de expulsão, não são eficazes, nem dignos, nem minimamente corajosos defensores da liberdade e da democracia, porque se o fossem, Marine Le Pen permaneceria convidada, apareceria na Web Summit 2019, e esses grandes moralistas confrontá-la-iam no local, debateriam com ela. Agindo assim, expulsando-a, nada mais somos do que "mais um tijolo no muro" que os Donald Trumps (e afins bem piores) querem construir. Portanto, não acredito que a Web Summit seja organizada por fascistas, mas agindo assim, são os fascistas os vitimados e somos nós os antagonistas.

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