Na actualidade, um dos casos mais gritantes, incompreensíveis e descarados de violação do direito laboral, e por conseguinte de direitos consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, é a relação existente entre, os dirigentes patronais da empresa privada de aviação comercial, a Ryanair, e os seus respectivos trabalhadores assalariados que exercem o ofício de comissários de bordo (os hospedeiros de avião, portanto).
Em pleno século XXI, na Europa Ocidental, os comissários de bordo da Ryanair possuem escassas garantias laborais, são coagidos e chantageados pelos seus patrões no caso de participarem numa greve, são pressionados e ameaçados se protestarem contra o facto de cumprirem horas extraordinárias não remuneradas. No pináculo do ridículo deste circo, há comissários de bordo da Ryanair que são ameaçados com despedimento se não venderem um determinado número de comodidades apresentadas aos viajantes, no avião. Será que a estes patrões da Ryanair, estas hienas sedentas de lucro através de qualquer meio, não lhes ocorreu que o ofício laboral dum comissário de bordo é assegurar a confortabilidade e a segurança dos viajantes, e não é vender produtos de estética facial ou paninis? A verdade é que, segundo os regulamentos outlaw desta companhia, qualquer trabalhador da Ryanair pode ser despedido se não respeitar os caprichos dos seus dirigentes, pode ser despedido se erguer o mais leve laivo de descontentamento face às suas condições de trabalho... pois é, de facto o despedimento sem justa causa ainda reina neste género de companhias. São como micro-estados dentro de Estados, sem terem a obrigação de cumprir preceitos constitucionais ou Direitos Humanos Universais. É uma nova etapa do capitalismo: até aqui o capitalismo era a própria estrutura do Estado político, era a própria estrutura a promulgar o sistema, contido dentro da própria Lei, mas cada vez mais o Estado é frágil e minúsculo nesta nossa civilização, e as empresas privadas deixam de ter a obrigação de cumprir a Lei, passando a funcionar num panorama fora-de-lei à plena luz do dia... em tom teatral, podemos chamar a isto outlaw capitalism, para não lhe chamarmos anarco-capitalismo.
E, para além destes crimes, o que me provoca mais raiva é o meu próprio irmão estar sobre a alçada destes lobos, lobos estes que só conseguem manter os seus preços baratos precisamente porque exploram os seus trabalhadores... mas para quê surpresas? O Neo-liberalismo funciona mesmo assim, mas lá está, o cidadão comum acha isto muito bem, o cidadão comum não quer saber. Só garanto uma coisa, a vós patrões da Ryanair, que não só exploram milhares dos vossos trabalhadores como exploram o meu próprio irmão: se tiver o desconforto de me cruzar com um de vocês, seja porque razão for, se um de vós, por um mero acaso, me dirigir a palavra, não esperem a minha simpatia nem esperem a minha gentileza, nem esperem a demonstração mínima de respeito, aliás, não esperem o mínimo de civismo moral vulgar. Vígaros como vocês deviam estar a prestar contas ao Tribunal Internacional, em Haia.
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