Passou mais um ano de Crato, findou mais um evento que dinamiza e põe no mapa o distrito de Portalegre, chegou ao fim mais uma edição de um evento já nacionalmente memorável na região onde vivo. Em mim tenho um profundo sentimento misto perante a 34ª edição do Festival. Por um lado aproveitei dois dias de Crato - um musicalmente medíocre, outro com uma banda que eu queria genuinamente ouvir ao vivo -, estando com amigos, conversando, na diversão recreativa, bebendo uns copos, no fundo aquilo que se faz num festival. Relativamente ao concerto que eu muito aguardei, o dos Xutos & Pontapés, gostei muito do que ouvi. Não sendo um concerto monumental de Rock, não sendo um concerto tecnicamente genial, não estando mais Zé Pedro presente, foi um óptimo concerto de Rock, de uma das maiores bandas portuguesas da História. Elogio a persistência deles em tocarem temas menos comerciais, e desconhecidos, do público comum (como eu que não sou um fã aguerrido da banda), como Privacidade ou Aleppo, mesmo que o público em geral não tenha agarrado o significado ou as referências literárias da obra de Orwell, 1984, por detrás do Privacidade.
Em suma, a exibição foi de enaltecer. Do resto que ouvi nada tenho a comentar porque não escutei na verdade, para meu bem, claro. Só tenho pena de não ter ouvido os Ugly Kid Joe no segundo dia, porque, segundo o que me foi dito, esta banda norte-americana também deu um excelente concerto de Rock N' Roll. A antítese deste sentimento misto que tenho em mim é o comportamento símio de certos espectadores do Festival e é o cartaz, evidentemente. Por um lado temos, maior parte do tempo, artistas que pouca música fazem, que se parecem muito uns com os outros, com qualidade musical ao vivo de envergonhar, e por outro lado temos elementos do público, essencialmente miúdos de 15 e 16 anos, que não têm qualquer ideia do que é um concerto de Rock N' Roll, e não sabendo o que fazerem, metem-se ao moches e aos empurrões, atrofiando a visão e atenção de quem está no recinto, admirando-se depois com certas posturas mais autoritárias e musculadas de quem próximo deles está. Mais caricato do que isto, foi-me dito que no espectáculo dos Wet Bed Gang houve moches na assistência. Mas esses Wet Bed Gang são uma banda de Heavy Metal e eu não sei?
Enfim... Só numa pequena nota: alguém tem o intelecto suficiente para me explicar qual a razão de ser do cântico "esta merda é que é boa" ao ritmo do "Seven Nation Army" dos White Stripes? É um pleno insulto pela palavra merda, por ser usada de forma tão barata, e um maior desrespeito pelos White Stripes, para não falar que o Tim dos Xutos não sabia muito bem como reagir ao cântico... mas isto é só a opinião do Velho do Restelo... Assinalo que não me refiro à maior parte dos menores presentes, só uma parte, e sublinho que também houve comportamentos símios, naquele Festival, por parte de gente com a idade dos meus pais, cuja aura de humor era uma de arranjar o conflito mais gratuito possível. A verdade é que se esta malta tivesse vivido os anos 60 e a geração da Contracultura, dificilmente teriam ideia do que se estava a passar perante os seus olhos.
Adiante, não pensem que na generalidade passei um mau bocado no Crato. Passei uns excelentes dois dias circundado com os melhores amigos que um indivíduo pode ter, vivendo uma filosofia de divertimento, liberdade e recreação dos sentidos, mas a verdade é que semelhante experiência pode ser muito melhor em locais musicalmente mais apelativos e publicamente mais propícios.
Xavier, um festival é isso mesmo...um festival! Onde o cartaz mais ou menos diversificado tenta abranger uma larga franja de público.
ResponderEliminarUns anos melhor, outros nem por isso,depende do gosto.
Verdade, verdade... Contudo, remato com uma afirmação e com uma questão: o cartaz do Crato já foi muito mais eficaz e justo a representar os vários espectros do público, neste momento há uma exagerada incidência para a música eléctrónica e outros reggaetons, que predomina na faixa etária dos 15-20. A questão é a seguinte, sendo o Festival do Crato um evento de música diversificada, porque é que todas as noites terminam com um DJ?
EliminarNão fui ao Crato, não tenho opinião. Mas sei que distrito não tem "c" mesmo no português de verdade, anterior ao desacordo...
ResponderEliminarTem razão, tem razão... Como "district" tem o "c", raciocinei que distrito também tivesse, enfim, a nossa memória por vezes fica toldada com tanto desacordo. Se bem que talvez fizesse sentido haver um "c"...
ResponderEliminar