Por mais sorrisos que o Presidente da República lance às câmaras, por mais amável que o Presidente seja com o comum cidadão que caminha na rua, por mais elogios que o Presidente teça ao simples café que visita, aquando das suas digressões pelas ruas desta nação, e por mais beijinhos que o Presidente dê às velhotas deste país, as suas acções institucionais e políticas são aquelas que têm consequências de facto na vida da nossa República.
Acontece que a Constituição da República Portuguesa concede substanciais poderes ao Presidente de República - como aliás deve ser concedido a um Chefe de Estado eleito democraticamente - e esses poderes permitem que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa tome um conjunto de decisões que influenciam o decorrer do nosso regime republicano, e a nomeação do Procurador-Geral da República é um dessas...
Marcelo vende uma excelente imagem de si próprio. No presente momento é virtualmente impossível uma competição viável que ameace a sua reeleição para o segundo mandato, tudo isto devido a uma inteligente promoção de figura intelectual próxima das pessoas, misturada com a ultrafavorável publicidade que toda a comunicação social lhe dá. Para além de mais, nenhum partido em presente existência neste país, dentro ou fora do Parlamento, se atreve a arremessar uma única crítica aguda à prestação política de Marcelo. Estas circunstâncias, na minha opinião, criam um escudo protector que torna Marcelo imune ao escrutínio público, desviando as atenções dos vários vetos presidenciais que já sucederam - alguns deles absurdos quanto a mim - focando atenções, exclusivamente, na sua never ending tour de beijinhos e selfies pelo país.
Quanto a mim, a minha paciência com Marcelo tem sido longa: foi o veto relativo à lei da identidade de género; foi o veto relativo à jurisdição dos transportes de Lisboa; e eu continuei a ter uma relativa empatia e grande respeito pela sua presidência, todavia, com uma crescente desconfiança. Mas a decisão de tirar Joana Marques Vidal da liderança da Procuradoria da República é a gota de água! Para mim chega de simpatias com um Chefe de Estado que quer iludir as pessoas, que não quer que as investigações no Ministério Público tenham continuidade e estabilidade. Os tempos de Marques Vidal na PGR foram tempos em que foram conduzidas óptimas investigações (por vezes minadas pelo próprio sistema) a graves casos de corrupção no país, desde José Sócrates, passando pelo BES e pela estrutura do football português, indo até às falcatruas de dirigentes angolanos em solo português. No momento em que Marques Vidal sai, a sua liderança perde continuidade, e, francamente, em nada estou esperançoso com a sucessão.
Quando penso que há coisas que mudam, no final, as pessoas diferentes têm sempre vida curta. Isto pode soar a teoria da conspiração, mas é precisamente com uma Procuradora-Geral que tinha reformado o Ministério Público, uma figura não divulgada de Esquerda, que Marcelo alega a treta vaga da rotatividade e decide que, no meio de inúmeros processos importantíssimos, agora que a cortina estava a ser desviada, é altura de termos uma Procuradora-Geral nova. Nunca ouvi sobre um líder a substituir um comandante-general, até então invicto no campo de batalha. Eu quero ouvir soar um pouco mais de vergonha por parte de Marcelo! Para mim chega de condescendência com o Presidente da República, já é demais! Só quero ver se o rotativo professor Marcelo também vai optar pela rotatividade e não concorrer a segundo mandato. Vamos ver a coerência de Marcelo Rebelo de Sousa quando achar que 5 anos já é bom, sem nunca esquecer as sábias palavras do Secretário-Geral do Partido Comunista quando disse que "Marcelo pode ser de Direita, Centro ou Esquerda, consoante a hora, o local e a assistência".
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