Foi com agrado que, nas Eleições Legislativas de 2015, recebi a primeira eleição, deste partido, dum deputado para Assembleia da República, tendo em conta que o PAN, não só é um partido recente, como também é um partido de reduzidos meios financeiros e logísticos, quando comparado com os partidos de grande dimensão. Claro que a minha felicidade não é cega. Teria recebido com pesar tal facto se tal tivesse vindo dum partido neofascista, mas o PAN não é um partido que apregoe tal ideologia, sendo sim um partido que, nos últimos quatro anos, trouxe à mesa da discussão pública questões que, até então, não passavam dos seus pequenos círculos ideológicos... e isso quando não eram consideradas meras trivialidades pouco dignas da discussão política nacional. Claro que, no que concerne aos avanços legislativos das propostas do PAN, o partido foi sortudo em 2015, uma vez que foi André Silva o deputado eleito - um homem que, sozinho, tem feito uma "barulheira" naquele parlamento. Já me deparei com pessoas que, de facto, se indagaram com este fenómeno: "Como é que um tipo só pode fazer tanto barulho?". E, neste aspecto, há que dar o mérito ao André Silva e ao seu partido no qual ele é o Porta-Voz. Mas antes das especificidades da prática política, é imperativo, como de resto tenho feito nos textos anteriores (o melhor que pude, talvez, tendo em conta que não quero fazer destes textos demasiado massudos, apesar de, para alguns, como avisei no início, serem indigestos), abordar a corrente ideológica por detrás do PAN.
Aqui é duplamente oportuno usar o termo "ideologia", devido ao facto de André Silva ter declarado o PAN como um partido pós-ideológico. Logo aqui vejo o primeiro grande problema com este partido, porque, no meu entendimento da sociedade humana contemporânea, não existe tal coisa como um movimento pós-ideológico. Pós-ideologia faz-me sempre lembrar de Pós-Modernismo - uma corrente filosófica recente que, não só anunciou o Fim da História e o derradeiro e eterno triunfo do Capitalismo sobre todas as demais formas de civilização, após a desagregação da União Soviética, como também introduziu estilos de arte que, por vezes, me sinto obrigado a classifica-los como produto da preguiça. Um partido pós-ideológico é um partido que se considera, num plano de evolução, para lá das correntes ideológicas que se espalham pelas várias formas de pensamento do nosso mundo. É um partido que se alheia ao confronto de ideias entre Socialismo e Capitalismo. É um partido que considera que isto de Direita e Esquerda é nada mais que uma distracção daquilo que é o foco da questão. Um partido pós-ideológico, como o PAN se afirma, considera que a sua agenda política está para lá da ideologia. Muitos poderão considerar esta minha reflexão, sobre esta declaração de André Silva, uma trivialidade pouco digna de atenção, mas não é. À frente concluirei porquê. Mas deixarei esta questão, por agora, assim: Não há tal coisa como partido pós-ideológico. Deve-se desconfiar de qualquer entidade que se afirme como tal.
Voltando à ideologia que move o PAN. No plano social é um partido libertário, que integra movimentos LGBT nas suas fileiras e que apresentou uma proposta de lei, na AR, de legalização da eutanásia. No plano filosófico-cultural, é um partido que valoriza a vida das restantes espécies biológicas em igual medida da sua valorização da vida dos seres humanos. É um partido que procura uma maior harmonia entre a vida civilizacional e a vida dos ecossistemas, e que rejeita, veemente, qualquer forma cultural que atente contra a vida de outras espécies, nomeadamente, os espectáculos tauromáquicos. No plano económico, é um partido que, pondo a discrição de forma simples e sucinta, tem fé no Capitalismo Verde. Claro que será injusto classificar o PAN como um partido neoliberal, uma vez que, atrevo-me a dizê-lo, amiúde entra em campos sociais-democratas (não é por acaso que André Silva sentiu necessidade de dizer que o PSD não é social-democrata). Claro que o cavalo de batalha deste partido é a defesa do ambiente e o combate às alterações climáticas, provocadas por largas décadas de poluição mundial, e é um estandarte - juntamente com a defesa dos animais - que aglomera todas as demais causas deste partido, que também entram nos planos concretos da Economia, e que, geralmente, não recebem a devida atenção, nem das pessoas, nem dos Media. Em todo caso, uma particularidade do PAN, quando comparado com outros partidos ambientalistas - e particularidade essa que serve de fissura definitiva entre mim e este partido -, é que o PAN quer fazer frente à Emergência Climática sem fazer frente ao próprio paradigma civilizacional: o Capitalismo. O PAN quer erguer uma sociedade mais protectora do ambiente - criticando, e muito bem, o productivismo/consumismo desenfreado e a economia extractivista - sem mudar as bases económicas e os alicerces do sistema financeiro que regem a nossa sociedade. Eu, assim como outros partidos ambientalistas que se guiam por um programa Eco-Socialista, não acredito que seja possível combater uma coisa sem enfrentar a outra. E é este o argumento que comprova que o PAN não pode ser pós-ideológico.
Quando ao que se tem passado ao PAN, nos últimos quatro anos, e quanto à pessoa do seu único deputado. A vaga de indignações contra o PAN por parte da Sociedade Civil tem sido vasta e incessante, ora tenha sido por causa das touradas, ora por causa da dieta vegetariana, ora porque os críticos consideram o PAN, sobretudo, um partido animalista (signifique isso o que significar). E não têm sido críticos quaisquer. Figuras tão distintas no país como Miguel Sousa Tavares - que lhes chamou "urbano-depressivos" - e Manuel Alegre - cuja polémica eu tive oportunidade de abordar no meu texto "Cavalgadura Literária" - sentiram necessidade de arremessar farpas ao PAN. Há quem considere que o PAN é um empecilho para várias áreas de interesse económico em Portugal - como a caça ou a agricultura intensiva - e eu até posso perceber porque é que há portugueses que detestam o PAN acima de todas as outras coisas (portugueses, tanto de Direita ou de Esquerda), mas o que eu nem posso entender é como podem comparar o PAN com Totalitarismo e Fascismo. Mudar estilos de vida pelo bem comum do Futuro e pelo bem da Natureza não é nenhuma forma de Pensamento Único ou de extinção da Democracia. Quanto a André Silva não há muito mais a afirmar. É um homem incisivo, determinado, confiante, bom debatedor, altamente informado sobre os temas que envolvem as suas causas estandarte. Mas claro, não é o único membro do PAN digno de menção. Também o recém-eleito eurodeputado Francisco Guerreiro é uma mais valia dentro do partido.
No que concerne ao dia 6 de Outubro, este vai ser um dia de vitória para o PAN. Várias figuras notórias da Nação vieram a público revelar o seu apoio ao jovem partido, umas mais surpreendentes que outras, como exemplo é o Historiador e Professor Catedrático João Paulo Oliveira e Costa. É provável que aumentem o número de deputados para 5 ou 6. O que tem algo de surpreendente, tendo em conta o achincalhamento mediático - e redes sociais também contam - que tiveram de suportar ao longo de quatro anos.
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