quarta-feira, 10 de outubro de 2018

A Humanidade dos Professores

Durante todo o meu percurso escolar, vários (vários, não foram todos) dos meus professores tendiam a pintar uma imagem algo intransigente e rígida dos docentes que leccionariam no ciclo de ensino seguinte. Estas considerações, que me acompanharam do 1º Ciclo até ao Ensino Secundário, começaram a afigurar-me relativamente exageradas por volta do 3º Ciclo, que foi a altura em que eu consegui reparar que as estórias se repetiam nas bocas do ditos professores, sem nunca se concretizarem. Quero advertir o leitor, caso pense que este texto é uma homilia contra os professores, que não é, sendo antes o seu contrário, e se não estiver a ver onde quero eu chegar, sinta-se livre em prosseguir nas seguintes linhas.

Para ser mais claro quanto às considerações que eu afirmo que esses professores faziam, elas passavam na verdade por momentos muito discretos e insignificantes. Inocentes até, talvez. Nomeadamente - e este exemplo sucedeu essencialmente durante todo o Ciclo, desde o 1º ao 3º -, quando eu e os meus colegas de turma estávamos a escrever algo do quadro para o caderno (se estivéssemos a levar muito tempo naquilo, ou pelo menos mais que aquele que o docente queria), era usual o professor dizer coisas como: "no 2º Ciclo os professores já não vão estar este tempo todo à espera que vocês escrevam" no caso do 1º Ciclo; ou então "no Secundário os professores não vão estar à espera de vocês, avançam com a matéria e pronto" no caso do 3ª Ciclo; ou ainda "na universidade os professores não vão ter condescendência como agora, não vão dar estas abébias, eles dão a matéria que têm a dar e vão-se embora", no caso de um ou outro professor no Ensino Secundário. Houve até professores, com os quais me cruzei nos meus outros tempos de estudante, que me disseram que eu iria encontrar professores universitários loucos, rudes, implacáveis (disseram-me isto dentro de circunstâncias muito específicas, que não interessa especificar agora)... Evidentemente, na generalidade, nenhuma destas preconizações alguma vez se verificou.

Com isto quero dizer que os professores, regra geral, pelo menos nos sítios onde eu estive a formar-me, e no sítio onde eu presentemente me formo, a FCSH, são muito humanos e solidários para com os seus alunos. Na FCSH, imagine-se, os professores ainda se dão a esse amável luxo de deixar o diapositivo mais um ou dois minutos para retenção de mais alguns apontamentos. Na minha faculdade, os professores não perderam a humanidade, não são más pessoas, não se danam para as nossas complicações. Claro que pode haver sempre maus profissionais, mas isso há em todo lado, e ao longo da minha vida também fui leccionado por uns poucos maus professores... E daí? Mesmo no meu presente curso de licenciatura já tive um ou outro péssimo feitio a leccionar, mas são uma minoria, francamente. Não sei o que acontece nas outras faculdades. Na minha os professores continuam a ter um espírito tão humano como tiveram os outros docentes recuando até ao 1º Ciclo.

E este desabafo vem a propósito de quê? Confesso que foi um aspecto repetitivo da minha vida estudantil do qual me lembrei. Olhando retrospectivamente encontrei humor nisto e achei produtivo partilhá-lo, nem que seja até um humilde e tímido testamento à paciência que um professor tem.

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