segunda-feira, 22 de outubro de 2018

SpeedCristal, Sleepwalkers e a Rock Scene de Almada

Tive o prazer de participar no evento Mostra de Música Moderna de Almada, que teve lugar precisamente no Cine Incrível da Cidade de Almada, e que ocorreu neste fim-de-semana, entre Sexta-feira e Sábado. Sempre que alguém estiver com a cabeça cheia da semana, nas eminências de implodir, a terapia que eu sempre recomendarei será tirar um ou dois dias no fim-de-semana, ir para algures onde não haja uma grande massa populacional, de preferência com amigos, e deixar-se imergir em música, de preferência ao vivo. Quanto a mim, não há nada como o ambiente liberto e fraterno do Rock N' Roll para nos meter na faixa certa do humor e da disposição. Numa nota curta e simples, aquilo que ouvi, deste evento surpreendente - que se resume à Sexta-feira - deixou-me bastante feliz quanto aos novos talentos portugueses que espreitam por detrás da cortina.

Em primeira e principal menção, quero assinalar o gig dos SpeedCristal como aquele que me impulsionou a ir passar dois dias à Margem Sul, para assistir em primeira mão a uns quantos jams de Punk Rock. Tive o prazer de acompanhar toda a preparação da banda durante todo o dia de Sexta, não estivesse eu alojado em casa do meu amigo de longa data, Henrique Raposo, o guitarrista da banda. Assisti ao soundcheck, jantámos, tivemos o gosto de entrar num estabelecimento de venda de vinis e cd's muito raros, designado Drogaria Central. Fiquei surpreendido com a raridade de alguns discos, que lá se vendem, exemplo é o 10000 anos entre Vénus e Marte (1978), de José Cid, ou o Barrett (1971) da autoria do fundador dos Pink Floyd, Syd Barrett. Tive hipótese até de descobrir um músico do qual não tinha o mais pálido conhecimento da sua existência, Richard Marx! Nome peculiar... 

Indo ao centro da questão, o concerto dado pelo trio SpeedCristal - que infelizmente teve a ausência do vocalista e membro fundador, o Necas - composto pela Sara Cunha nos vocais e no baixo, o Henrique Raposo na guitarra eléctrica e o João Guerreiro na bateria, representou 40 minutos de missão cumprida e de excelente sincronização de banda. É sem sombra de dúvida o aspecto instrumental o grande ponto forte da banda, e foi isso que se evidenciou no concerto do Cine Incrível de Almada. A Sara é uma baixista altamente coerente, o João é um relâmpago de baterista e o Henrique é um guitarrista excelente e altamente versado a solo. De entre as sete músicas que foram tocadas pelos SpeedCristal, eu terei de eleger o Vortex como o melhor jam que a banda tocou. Sinto, todavia, que, apesar de serem os SpeedCristal com quem eu passei esta experiência, o título de 'concerto da noite', e possivelmente de toda a edição da Mostra de Música Moderna deste ano, deverá ir para a banda que veio a seguir aos SpeedCristal. Falo dos Sleepwalkers, que me deixaram completamente absorvido pelo som que produziram. Um som melodioso, melancólico e ébrio, e quem de resto lá estava pode confirmar a pura qualidade desta banda. 

Foram 40 minutos de uma mistura óptima de Blues, Alternative Rock e Psychadelic Rock que valeu muito a pena, numa formação composta por Hugo Gomes nos vocais e na guitarra de ritmo, Guilherme Raposo na guitarra de solo, Francisco Medeiros no baixo, e Inês Gomes na bateria. E quando eu digo que esta exibição foi algo de especial, também eles são, pessoalmente, um conjunto bastante especial. Descobrimos isto quando tivemos oportunidade de os conhecer após o seu concerto. O Hugo Gomes, enquanto vocalista e frontman de uma banda de Rock, tem o potencial para ir bem longe. Eu se fosse dirigente de uma qualquer editora musical já estaria com a sua voz na cabeça. Se houver dúvidas disso, as duas faixas de música que estão gravadas pelos Sleepwalkers, no Soundcloud, poderão confirmá-lo melhor que eu - são o Hippies e o Into the City.

No final é esta pequena crónica de lembranças alegres e motivadoras que aqui deixo, que para muitos pode significar muito pouco, mas que significa imenso para mim. São estas experiências, cheias de pessoas novas, animadas, com nova música a ser criada ao virar da minha esquina, que me ajudam a ser um pouco mais humano. E no final, um grande obrigado ao conjunto dos SpeedCristal, e também aos Sleepwalkers, por terem concordado em permitir eu escrever sobre os seus concertos e por se terem lançado de corpo e alma na música. Quem sabe, um dia estaremos todos a falar dos SpeedCristal e dos Sleepwalkers como grupos portugueses a fazerem ascender o Rock, novamente, no panorama nacional. Quem sabe se será na cena de Almada que tudo começa. Mas numa coisa eu acredito e tenho esperança, e digo isto com toda a consideração para com os demais músicos que fizeram um óptimo trabalho: o Henrique Raposo e o Hugo Gomes são estrelas que só agora começaram a brilhar.

1 comentário:

  1. Quero deixar aqui um grande obrigado aos Sleepwalkers pelos agradecimentos que têm prestado a este texto, e também por terem partilhado esta minha mensagem. É isto mesmo, na música e na sociedade, que vale a pena!

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