sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Peripécia no choque de gerações

Há uns tempos, deparei-me na rede social facebook com uma enormidade absurda sob forma de uma publicação escrita. A publicação rezava da seguinte forma, dizendo um qualquer neto para o avô. Avô, como é que vocês antigamente, conseguiam viver sem tv, telemóvel e internet, respondendo então o tal avô ao dito neto, Pois meu neto, tal como vocês hoje conseguem viver sem amor, humanidade, união, respeito, estima e confiança. Coisas destas, supostamente, nem mereciam resposta ou importância, mas eu cá estou para dar importância àquilo que é insignificante. Acontece que redes sociais como o facebook estão cheias destas coisas, e a culpa nem se quer é do facebook em si, pois esta rede social é apenas uma plataforma onde as pessoas partilham coisas. A culpa é mesmo de pessoas que habitam, residem no facebook, e que o usam para lançarem aquilo que verdadeiramente pensam, mas este tipo de pessoas só o fazem mesmo no facebook, detrás dum ecrã, porque detrás do teclado qualquer um pode ser um guerreiro. Abordando a publicação em si, ela parte de uma realidade, uma questão por vezes feita de netos a avós em jeito de curiosidade, visto que os netos, como eu, nunca viveram num mundo sem estas comodidades, e lança-se para uma mentira que acaba por eclipsar a verdade. O hipotético avô afirma de boca cheia que os netos, pessoas mais ou menos da minha geração, já não vivem com amor, humanidade, e tudo mais afirmado. E essa segunda afirmação não é uma generalização moderada, ou direccionada a um certo grupo de pessoas, é antes uma gravíssima e desrespeitosa generalização total, o que por si só já é uma falácia. Farpas e generalizações destas não podem ser ignoradas, e digam que, com isto, estou a assinar por baixo no clube dos indignados. Acontece que aqui há muita indignação, e há muita vergonha, e há indignação porque, ao dizerem, Vocês, estão a dizer-me, Tu, e estão a dizê-lo ao meu irmão, e estão a dizê-lo aos meus amigos e conhecidos que pertencem à minha geração, Vocês não conhecem amor ou humanidade. Eu digo, que se danem estas cabeças saloias, que só têm ideias parvas, que colocam uma censura sobre toda uma geração. Não foi na minha geração que houve cem milhões de pessoas vitimadas em duas guerras mundiais num espaço de trinta anos, e não foi na minha geração que o mundo esteve a dois passos de armagedão nuclear. Mas aquilo que verdadeiramente me conforta é saber que os originários deste tipo de publicações não sabem o que é ser avô, porque avô algum diria uma calamidade destas ao seu neto. Eis o que alguns poderão chamar, em tom desdenhoso, de millennial riot.

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