domingo, 7 de outubro de 2018

Bolsonaro: Desordem e Retrocesso

A República Federal do Brasil está nas eminências de caos social absoluto. O lema "Ordem e Progresso" que se mantém na bandeira daquela Nação é cada vez mais antagónico ao estado de coisas, no decorrer das eleições presidenciais brasileiras. Antes de me pronunciar sobre o elefante na sala, gostava de referir que o Brasil é um país de génese latina, que fala português - um português diferente, mas português ainda assim - e que por isso mesmo nos é próximo do ponto de vista identitário, sendo também uma das economias emergentes do mundo. O Brasil é uma das potências económicas e demográficas da América Latina, é o 5º maior país do mundo, em área, e um país habitado por mais de 200 milhões de pessoas. 

Tendo isto escrito em água claras, quase escusado será dizer que o desenrolar das eleições presidenciais que se iniciam hoje é um evento de máxima importância, considerando, também, a situação de desordem e retrocesso que marca a sociedade brasileira, e também as manobras até agora bem sucedidas de um perigosíssimo fascista declarado, e é este o elefante na sala a ser abordado.

Tenho estado decepcionado com a moderada (quase frágil) atenção que a comunicação social tem dado a Jair Bolsonaro, comparada com a cobertura que fizeram a Donald Trump, ou a Nigel Farage, aquando do referendo do Brexit. O Bolsonaro, por força casual, ou não, das circunstâncias, tem passado relativamente despercebido por estas praias, situação por si só já perigosa. Um verdadeiro fascista nunca pode passar despercebido, seja onde for, e a comunicação social, mais uma vez, falha no fornecimento de informação às pessoas. Apesar de tudo, há quem insista em falar imenso sobre Bolsonaro, e foi por isso mesmo que me cruzei com um artigo, no Jornal Público, da autoria dum conterrâneo portalegrense (várias vezes já criticado por mim devido às suas posições direitistas), membro do Governo Sombra, chamado João Miguel Tavares. O JMT, como qualquer colunista, tem os seus momentos bons e maus. Aqui acertou em cheio quando escreveu: "A dificuldade que alguma direita tem em admitir esta evidência [de que Bolsonaro é fascista] preocupa-me (...)Bolsonaro parece fascista, cheira a fascista e fala como um fascista. Defende a violência do Estado, a pena de morte e a tortura; maltrata grupos sociais vulneráveis (homossexuais, negros, índios); e tem um discurso de coesão nacional racista e paranóico. Olhar para isto e dizer, com os dedos cruzados, “é só pose”, parece-me uma jogada estupidamente arriscada. Entre um fascista impoluto e um democrata corrupto, eu escolho o democrata corrupto.". Eu sinto-me tão preocupado como o JMT...

Dando um pouco mais de luz sobre o que é Jair Bolsonaro: é um antigo militar guerrilheiro em defesa da Ditadura Militar; é um senador com um vasto historial de comentários sexistas, racistas e homofóbicos; é um indivíduo que afirma que os povos nativos indígenas não merecem um metro de terreno para eles; é um senador que já afirmou que a democracia não serve as soluções do Brasil; que o Senado tem de acabar; que a situação só se resolve com novo golpe militar; e é um indivíduo que pretende enganar o povo brasileiro, dizendo ao povo que a sua agenda de imposição social conservadora e de fronteiras apertadas é compatível com um plano económico liberal. Bolsonaro pretende vender todos os sectores socialmente importantes da sociedade a privados (saúde, educação, transportes). Bolsonaro não quer defender a nação brasileira, quer vendê-la, e deixar os brasileiros entregues à sua sorte! 

Debaixo de um Presidente Bolsonaro, indígenas e negros não encontrarão porto seguro, quer seja em seus locais de residência ou em seus locais de trabalhos, de agressões alheias, porque o fascista Bolsonaro os detesta. Debaixo dum Presidente Bolsonaro - herdeiro duma escola de vastas mentiras e mitos falaciosos,  offsprings da Extrema-Direita - homossexuais, bissexuais, transgéneros, não encontrarão protecção da lei em nenhuma rua brasileira, e o fascista por isso anseia!

Não posso deixar de mencionar a participação de alguns sectores obscuros do Cristianismo Evangélico no apoio a Bolsonaro, mas visto que o fascista está a fazer tudo isto em nome de e por deus, é normal que haja sempre igrejas por detrás dum fascista... é um clássico! Possivelmente, a maior aberração que Jair Bolsonaro já defendeu foi a esterilização da classe baixa para controlar a explosão de natalidade na demografia, e se os elementos das classes sociais baixas se recusassem, teriam de ser forçados! Acreditem em mim, este homem só não é um Estaline ou um Hitler porque não tem capacidade para isso. Em todo caso, em remate deste traçar do perfil do candidato Bolsonaro, o seu aspecto filosófico mais bizarro, que partilha aliás com o seu amigo símio fascista Olavo de Carvalho, é a sua obsessão compulsiva em destruir os ditos esquerdopatas e a "agenda de propaganda do homossexualismo". Estas ideias só poderão vir de fascist crackpots, como diria Christopher Hitchens.

Já vai longo o texto... Está na altura de desferir as últimas punchlines. Os brasileiros, de momento, não fazem ideia que hão-de fazer à vida deles. Com políticos corruptos presos, e um grande fascista a liderar as sondagens, com graves problemas de violência social e pobreza material, a situação é muito confusa. Maior parte dos votantes de Bolsonaro procuram nele segurança social e estabilidade económica, nada mais, o mesmo procuravam os alemães em Hitler ou os italianos em Mussolini, ou até mesmo os portugueses em Salazar, o que eles não sabem é que Bolsonaro nunca lhes dará isso. É impossível acabar com a violência social perpetuando intolerância e mais violência, é impossível adquirir estabilidade económica neoliberalizando o Mercado. A História ensinou-nos isso, mas a única História que Bolsonaro conhece é aquela que vem escrita na Bíblia, ou nos memorandos do Olavo. 

A única forma de dar a volta a esta tragédia democrática é ser Ciro Gomes a avançar numa possível 2ª volta contra Bolsonaro. Fernando Haddad nunca derrotará Bolsonaro numa 2ª volta devido à falta de credibilidade do PT - o próprio seria uma tristeza de presidente, assim como é o seu partido. Mas no meu prognóstico não será isto que acontecerá: Bolsonaro e Haddad avançarão para a 2ª volta, e se até lá o Jair Bolsonaro não cometer nenhum erro crasso perante o seu eleitorado, será Jair Bolsonaro o próximo Presidente da República Federal do Brasil, para felicidade dos ideologicamente cobardes, e tristeza, ou até horror, do Mundo Livre.

Quanto a mim, só há três tipos possíveis de pessoas que votam ou apoiam Bolsonaro: puros fascistas ideológicos; gente ideologicamente ignorante, que não sabe diferenciar a Esquerda da Direita; ou gente com graves problemas de ódio... não acrescento nem tiro uma vírgula! E quem adorar Bolsonaro, quem tiver a mínima simpatia pessoal e/ou política por Bolsonaro, tem de me odiar a mim, não tem outro remédio... Porque eu, como muitas outras pessoas, represento muito daquilo que fascistas do calibre de Bolsonaro repudiam: sou um socialista (um esquerdopata na língua fascista), um ser humano bissexual (se preferirem, promotor da agenda de propaganda homossexualista, como só o Olavo de Carvalho diria asquerosamente), um antiteísta (o anticristo basicamente, para tipos como Bolsonaro), e não gosto nada do autoritarismo desmedido e gratuito... um alvo a abater para a máquina bolsonarista.

Numa nota final muito séria, esta é uma situação muito grave que me está a deixar genuinamente preocupado, mas a bola está do lado dos brasileiros. Será o momento da verdade para ver, afinal, para o povo brasileiro, o significado do lema "Ordem e Progresso". 

Sem comentários:

Enviar um comentário