quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Prosaico prólogo & Quadras Natalícias (Poema)

Prosaico Prólogo


Está a terminar a época natalícia e o Inverno ainda agora começou. Para mim será sempre uma época mágica, feliz, reconfortante, anestesiante quanto às difíceis vicissitudes de viver nesta sociedade dúbia e contraditória. O Natal simboliza reencontros, harmonia, paz, conforto no quente da casa e da família, dar e receber, e simboliza a esperança de que, para lá de um mar de cinismo, arrogância e ganância, há um mundo fraterno e unido no qual cada um possa receber luz da sua própria Árvore de Natal encimada por uma luminosa estrela. Para mim, não sendo eu cristão, é esta a minha retórica e os meus sentimentos relativamente ao Natal. 


Claro que muitos poderiam acrescentar mais simbologia que se possa identificar com o Natal. Outros, inclusive, poderiam afirmar que o meu esforço em eliminar a fé cristã e o nome de Jesus Cristo da minha retórica relativamente ao Natal é, per se, motivo para descredibilizar e desvalorizar a minha visão do Natal. Poderiam afirmar que o Cristianismo é conditio sine qua non para a celebração do Natal e que qualquer coisa que se desvie disso é basicamente uma heresia e um 'falso natal'. Respeitando a fé religiosa dos cristãos relativamente ao Natal - afinal, o Natal celebra o primeiro momento fundador do Cristianismo, isto é, o Nascimento de Cristo - valerá a pena recordar que o Natal contemporâneo é uma mescla de cultura cristã e cultura nórdica (pré-Cristianismo), com elementos religiosos trazidos pelo Cristianismo Ortodoxo e a cultura dos Países Baixos. O próprio Pai Natal - também referido como São Nicolau ou Santa Claus -, que alguns afirmam ser uma invenção do Capitalismo, ou do Nazismo, ou da Coca-Cola, ou do diabo a quatro, é na verdade uma ancestral figura presente no Natal de tantas sociedades influenciadas pela cultura cristã e que, infelizmente, só há pouco mais de 100 anos chegou pela primeira vez ao imaginário da sociedade portuguesa, ainda que as festas nicolinas sejam celebradas na zona de Guimarães, um berço da nacionalidade, desde o Século XVII (calendário gregoriano). Quanto a mim, o Pai Natal e toda a magia em torno desta figura lendária é algo muito simpático para mim. E posto que o Natal contemporâneo é uma encruzilhada entre várias formas culturais, considero justo afirmar que do universo dessa efeméride cada um tenha direito a retirar e celebrar aquilo que melhor lhe convém e que lhe afigurar mais simpático e reconfortante.


Pouco mais me resta afirmar. Há três particulares elementos que me enchem de felicidade no Natal: o Pai Natal e o seu trenó voando pelo firmamento à velocidade do som; a Árvore de Natal a encher de luz e beleza um lar; a neve a cair incessantemente na rua em contraste com a lareira da casa. A lareira já a tive. Temos de a recuperar. A neve praticamente nunca a tive. Teremos de ir atrás dela. Segue-se agora um poema da minha autoria, escrito entre 19 de Dezembro e 24 de Dezembro de 2017, e lido na consoada de família desse mesmo ano em Alpalhão.


Quadras Natalícias


Uma mesa redonda nesta quadra natalícia
Com velas iluminadas na consoada nostálgica,
Um ciclo repetido com muita perícia –
Embora simples, é uma noite mágica.

As pequenas coisas que são grandes,
Que preenchem a ausência com vastidão,
Sempre assim fora feito, dantes,
Assim será sempre feita a união.

O Natal não dá o nascimento de nada.
Dá a perpetuação do calor e existência,
É uma rotina sob uma reconfortante balada –
É as boas coisas da vida, na essência.

É a deliciosa comida e a boa bebida
É a reunião invernal, mas calorosa, da vida
É o nosso verdadeiro alento natural
É um frenesim de harmonia, o Natal.

Não se trata de presépios institucionais
Nem de superstições da noite penumbra.
Não se trata de presentes banais
Nem da estrela esquecida que nunca se alumbra.

É sim uma harmonia de saudade –
Algo que não deva ser forçado –
É uma reunião de amizade
É um ciclo de solidariedade consumado.

Através da névoa glacial reveladora
Da noite mística e perpetuamente escura
Vem um curioso floco, da neve iluminadora
Alumbrando a outrora esquecida estrela que endura.

E é a deliciosa comida e a boa bebida
E a reunião invernal, mas calorosa, da vida
É o nosso verdadeiro alento natural
É o frenesim que sempre será o Natal.

Do Frio e do vento se constrói poesia

Assim se escreve uma quadra natalícia.


Post scriptum

Após esta época de festejo, é sensato que a sociedade portuguesa se prepare para o que aí vem. Dentro de um mês serão as Eleições Legislativas extraordinárias, e ou muito me engano ou os motivos de festejo serão nulos por essa altura.


Joves, 9 de Nivoso CCXXX