sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Qatar

Foi há mais de uma década que, no seio da FIFA, numa reunião convocada em Zurique, foi seleccionada a nação anfitriã do Campeonato Mundial de Football que há duas semanas teve início. Essa nação é a primeira dos estados árabes e da Ásia Ocidental a organizar um Mundial e o nome do estado é Qatar. Ainda era um pré-adolescente quando tal resolução veio a público e, logo nessa altura - e disto o meu irmão, por exemplo, é testemunha - olhei com um péssimo esgar a tão idiota decisão por parte dos mestres da FIFA. Embora não detivesse, na época, a bagagem de conhecimento e raciocínio que tenho hoje, já era perfeitamente capaz de compreender várias implicações de tal arranjo, desde a ordem climatérica à ordem política e societal. E como eu houve tantas outras pessoas anónimas ou públicas que se insurgiram com tal decisão e que denunciaram os potenciais casos de corrupção e suborno que inundam os organismos da FIFA. Em 2014 houve, inclusive, extensas investigações por parte de várias instituições (Media e serviços nacionais de informação) que chamaram a atenção do público para estes factos e que alegaram que a decisão de fazer do Qatar o anfitrião do Mundial 2022 é um caso flagrante da corrupção instalada, tanto por parte da FIFA como por parte dos governantes do Qatar. Portanto, o primeiro ponto que quero salientar é o seguinte: as pessoas não se estão a queixar só agora! Há uma década que a questão é discutida e denunciada e há uma década que os governantes do Qatar se riem a bandeiras despregadas porque sabem que levarão a sua avante.


O facto do Qatar ser a nação anfitriã do Mundial 2022 fez deste torneio de football mais do que um evento desportivo-cultural. Com as polémicas que constantemente têm surgido nos noticiários e as discussões sobre a natureza política do Estado do Qatar, o Mundial 2022 tornou-se incontornavelmente um evento com fortes implicações políticas, e não pelos melhores motivos. Na ligação entre o Qatar enquanto país anfitrião do maior torneio desportivo do mundo e enquanto país regido por uma Monarquia Absoluta e islâmica fundamentalista, há quatro principais graves problemas de violação de direitos humanos que são atentados descarados à Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, que deveria reger - pelo menos em ambição - qualquer estado-membro desta grande instituição. É com base na enumeração destes quatro graves problemas que eu irei contradizer o Emir do Qatar, e seus associados governantes, no sentido de afirmar que, afinal, nem toda a gente é bem-vinda ao Qatar, e que eu irei atirar à lama o nome do Presidente da FIFA. Às pessoas leitoras perdoem-me a falta de contenção mas eu sinto-me particularmente fulminado.


O primeiro atentado aos direitos humanos no Qatar é a forma como os donos deste país lidam com as liberdades de expressão e imprensa - liberdades virtualmente inexistentes nesta sociedade islâmica. É proibido segundo a Lei do Qatar: instigar ao derrube do regime; divulgar aquilo que o regime considere ser "notícias falsas" (o que, francamente, poderá ser qualquer coisa que o Emir queira que seja); publicar conteúdos online que os governantes considerem ser um insulto aos valores sociais do Qatar; criticar o Emir; criticar a religião islâmica. Qualquer pessoa que publique notícias ou informações que, na estimativa do regime, comprometa os interesses nacionais, pode resultar em 5 anos de prisão para essa pessoa. A cereja no topo deste bolo totalitário é que é proibido para todos os cidadãos e cidadãs do Qatar declararem-se como apóstatas ou converterem-se a outra religião, sob pena de serem severamente punidos e encarcerados. No índice da liberdade de imprensa (2020) dos Repórteres Sem Fronteiras, o Qatar está classificado na posição 129 em 180 estados classificados.


O segundo atentado aos direitos humanos no Qatar é a forma como o seu regime trata toda e qualquer prática ou interesse romântico ou sexual que fuja à estrita regra da heterossexualidade, ou a forma como o regime trata pessoas que pretendem alterar o seu género ou que, no que concerne a sua identidade de género se declarem não-binárias. De acordo com o sistema jurídico do Qatar, qualquer relação sexual consensual entre dois homens acima dos 16 anos de idade pode ser punível com 7 anos de prisão. Também, qualquer homem que alegadamente incite outro homem em relações sexuais corre o risco de sofrer uma pena de 3 anos de prisão. Para além disso, como tem sido mais que evidente nos últimos dias, o Qatar não tolera qualquer manifestação de apoio a direitos LGBTQ nem qualquer retrato positivo de pessoas LGBTQ. No índice de igualdade para estados favoráveis à Comunidade LGBTQ da Equaldex, o Qatar encontra-se na posição 184 em 198 estados classificados.


O terceiro atentado aos direitos humanos no Qatar é a forma como o seu regime trata cerca de metade da sua população, nomeadamente, as mulheres. De acordo com o sistema do Qatar, qualquer pessoa do sexo feminino precisa de autorização de um tutor masculino (qualquer figura masculina que por ela seja responsável) para casar, deslocar-se ao estrangeiro, aceder aos cuidados de saúde reprodutiva ou trabalhar no Estado. O regime do Qatar também proíbe qualquer mulher de ser a principal tutora de um filho seu. É também uma realidade no aparelho jurídico do Qatar a forma altamente atroz como mulheres que têm relações fora do casamento são tratadas e punidas. No ranking da igualdade de género (2022) do Fórum Económico Mundial, o Qatar está classificado na posição 137 em 146 estados classificados.


O quarto atentado aos direitos humanos no Qatar é a forma como o seu regime trata a Classe Trabalhadora. O modelo laboral do Qatar é regido pelo medievalesco Sistema de Kafala: direccionado, sobretudo, aos trabalhadores migrantes - que compõem cerca de 95% da força de trabalho do Qatar -, estes estão inteiramente dependentes da entidade patronal para terem residência e estatuto civil, havendo fortes dificuldades do trabalhador mudar de trabalho sob pena de acusação criminal. [Sendo uma das bases de produção económica do Qatar, este Sistema de Kafala também pode ser visto como um traço bastante assinalado de xenofobia implícita nesta sociedade.] No Qatar não existem quaisquer direitos de associação sindical, greve ou protesto por melhores condições laborais. O trabalhador que entre por esses caminhos é considerado uma ameaça à ordem pública. Não existe qualquer transparência, por parte do Estado do Qatar, quanto a dados sobre mortes ou lesões em trabalho. As condições salariais para o trabalhador comum são também uma horrível desgraça e quase são sinónimo de escravatura. Não há melhor exemplo, para tudo o que mencionei neste parágrafo, que as condições laborais em que os estádios deste Mundial foram construídos. Estádios construídos sobre sangue: muita gente morreu a trabalhar. No índice global de direitos da Confederação Sindical Internacional, o Qatar está no nível 4, isto é, violações sistemáticas dos direitos laborais. 


Embora eu já tenha referido que o Estado do Qatar é uma monarquia absoluta - possuindo um pseudo-órgão legislativo para fins meramente consultivos - valerá a pena sublinhar que o Emir do Qatar, e o seu círculo de governo, é o legislador, é o executor da lei e é quem julga dentro da sua lei (e já percebemos que a sua lei poderá ser o que ele bem entender). Não existe a mais leve substância de Democracia ou de pluralidade de opiniões. Não existem checks and balances. Tudo o que existe é um despotismo caprichoso que leva à frente tudo o que se meter no seu caminho. E qual o objecto da Lei Fundamental desta nação? A Lei Sharia - tal como no vizinho Reino da Arábia Saudita que tanta coisa tem de semelhante, incluindo as suas tão valiosas reservas de petróleo que, para mal destas dinastias, têm os dias contados.


Foi nisto que a FIFA achou por bem, já lá vão 12 anos, atribuir o Mundial deste ano. Esperariam, entretanto, que a realidade social mudasse? Se assim esperavam, enganaram-se! Claro que o senhor Infantino bem tentou passar uma esponja sobre este desagradável assunto e afirmar que isto é tudo hipocrisia ocidental. Pois bem, se o senhor Infantino, com a sua recém-nascida clarividência holística e multicultural, acha que as justas críticas dirigidas ao regime do Qatar são uma hipocrisia por parte dos estados livres, eu convido o senhor Infantino a levar a sua esposa (se tiver), as suas filhas (se tiver) e um filho gay (se tiver) para o Qatar, enquanto uns se dedicam ao livre jornalismo e outros se dedicam a trabalhar nas obras. Aí o senhor Infantino poderá ver o quão feliz ele e os seus poderão vir a ser… não gasto mais linhas com um ignorante cujo maior mérito é presidir a uma instituição que rima com corrupção.


No que concerne à sociedade alargada, as reacções das reacções (isto é, houve pessoas, como eu, que se indignaram, e houve pessoas que reagiram a essa indignação) do facto do Mundial ter lugar num estado com a anteriormente descrita natureza política foram bastante diversas, surpreendentes, chocantes, frustrantes, estúpidas, sensatas, palermas, acéfalas, irrelevantes, banais, inconsequentes, excelentes, enfim, houve de tudo um pouco! Há quem opte por fazer como a avestruz, enfiar a cabeça na areia, e dizer que o tempo das queixas já passou: "Deviam ter-se queixado há 12 anos, quando a decisão foi tomada!" Já sabemos que as "queixas", impotentes face ao grande capital, começaram logo nessa altura. Há quem opte por fazer papel de cínico, afirmando, nem que seja com o mais tímido e ténue esgar de regozijo, que a cultura dos outros países é para ser respeitada. São precisamente estas mesmas pessoas - do dia para a noite convertidas em campeãs da multiculturalidade - quem têm um défice cultural gritante, seja a cultura respeitante à sua nação, seja a cultura de outras nações. Se, para estas pessoas, direitos humanos é nada mais que uma questão de cultura, como o capote que os alentejanos envergam ou o kimono que os japoneses vestem, se para esta gente os direitos laborais, a liberdade feminina, a liberdade sexual e a liberdade de expressão, são nada mais que simples questões de diferença cultural, como a vodka dos russos ou o kilt dos escoceses, então, face àquilo que é o argumentário destes cínicos, eu pergunto-me: "Para que é que se combateu a 2ª Guerra Mundial?" A perseguição de judeus, entre outros grupos, na Alemanha Nazi, também pode ser vista como uma questão cultural. A forma discriminatória como os atletas judeus foram tratados nos Jogos Olímpicos de 1936 (mais que os negros, inclusive) também pode ser vista como um mero apontamento cultural. Apesar de tudo, Hitler, esse grande benemérito, queria apenas salvaguardar a cultura ariana, a bem ou a mal, verdadeira ou inventada. Se quisermos continuar a esticar esta perigosa corda, a escravatura era uma questão cultural… e económica. Malandro do Lincoln e de toda a União que se meteram a combater uma guerra civil por causa de tão trivial característica cultural dos Estados Confederados. Malandros dos liberais e dos progressistas que quiseram pôr termo à segregação racial, quer tenha sido nos EUA ou na África do Sul. Querem ver como a corda pode esticar até ao limite? A nossa monarquia era uma questão cultural. 771 anos de história. Qual foi a legitimidade dos revolucionários republicanos, a 5 de Outubro de 1910, de terem cilindrado a cultura política portuguesa? (Só aqui entre nós, como já fiz referência num texto semelhante neste blog, havia uma época, quando eu ainda era um jovem ingénuo, em que eu acreditava nessa premissa.) Ao fim de contas, acabámos por importar a República: essa ideia estranha e estrangeira congeminada e trabalhada por helenos, romanos, neerlandeses e franceses. A Ditadura do Estado Novo também tinha muito de cultura portuguesa. Uma serena e moderada ditadura, sempre muito austera e fechada sobre si própria, a abarrotar de Igreja Católica. Para que é que o Movimento das Forças Armadas foi lá mexer, interferindo com o caldo identitário da cultura portuguesa? É nisto que dá a atitude de gente cínica, afirmando que direitos humanos são nada mais que um apontamento cultural. É impressionante como na História da Humanidade a identidade cultural tem justificado tantas barbaridades com a conivência directa ou indirecta de tantos. Se começar a ser um lugar comum a relativização dos direitos humanos, então eu confesso perder todo o interesse na questão da sociedade internacional. Se chegarmos ao rasteiro ponto de relativizar violências, desigualdades, discriminações, perseguições e ausência de Estado de Direito como meros apêndices na fisiologia cultural de determinado estado-nação, então mais vale encerrarem as portas da ONU. Não faz falta, somos forçados a supor. Não queremos interferir com as culturas excêntricas desta vida. Se algum país, um dia destes, quiser meter em andamento uma cultura que seja uma mescla de genocídios e canibalismo, está à vontade desde que seja cultura! Mas a FIFA é a primeira culpada de toda a situação.


Apesar de rectificadas, ditas de novo, riscadas por cima e explicadas em fresco, também foi com alarme que escutei as declarações do Presidente da República Portuguesa pouco antes do Mundial ter início. Em suma, Marcelo afirmou que essa estória dos direitos humanos é preocupante mas que isso agora não importa porque o que importa é dar apoio enquanto 11 rapazes portugueses jogam à bola. São as prioridades. Prioridades essas das quais Marcelo também foi muito rápido a arrepender-se. Marcelo arrependeu-se de tal forma, e o Primeiro-Ministro deve ter ficado de tal forma embaraçado, que no dito fórum em que António Costa falou, este deve ter endurecido de tal forma as críticas ao regime do Qatar que o Emir foi meter a República na sua lista negra, what a bad boy. E nós desolados com isso. Quanto a mim, a mensagem que o Governo tinha para endereçar ao Embaixador seria muito simples: "Homem, arrume as malas, bata com a porta e venha daí embora!" Não precisamos de relações diplomáticas com o Qatar. Não precisamos de relações de amizade com esses sheiks cujo maior desafio diário é decidirem com que toalha de mesa se vão tapar nesse dia. Tomem. Aí têm eu a ser rude, mas não tão rude como esses prepotentes.


Os reaccionários nas várias sociedades afirmam que o liberalismo social está a tomar conta do status quo, e que agora são eles - os reaccionários - os grandes oprimidos desta vida. Alguns vão até ao excêntrico ponto de aderir a essa doida teoria da conspiração do Marxismo Cultural - teoria essa que eu já abordei num texto deste blog. Pois bem, se isso fosse verdade, se fosse verdade que os aparelhos societais do mundo se tivessem a desviar para a Esquerda (como eles dizem), como poderiam então justificar a realização do maior evento desportivo do mundo num estado extremamente capitalista, hierarquizado, monárquico, religioso, anti-democrático e tradicionalista? E como poderiam justificar tal teoria quando a esmagadora maioria, face à natureza do anfitrião, nem pestaneja e se limita a aceitar com serenidade a cultura de um estado totalitário? É por estas que eu sinto que devo sublinhar a seguinte desagradável ideia: a liberdade de pessoas LGBTQ, a emancipação feminina, o progresso das condições laborais da Classe Trabalhadora e a liberdade de expressão e associação, não podem ser dados adquiridos. Perante as prioridades maiores das corporações e dos interesses económicos e políticos, qualquer um destes avanços humanitários poderá ser descartado a favor do grande capital.


À partida, um forte argumento poderia ser levantado contra aquilo que escrevi até aqui, a propósito do Qatar ser a nação anfitriã de um Campeonato Mundial de Football. Alguns poderão argumentar que a minha posição crítica poderá conter uma índole eurocêntrica e que tal posição iria excluir a maior parte dos estados do mundo da idoneidade para organizarem grandes eventos desportivos internacionais. Em suma, poderiam rematar que a essência da minha posição parte de uma postura arrogante. Tal seria verdade se eu defendesse que só as nações com os melhores registos em matéria de direitos humanos tivessem idoneidade para organizar eventos com esta magnitude e projecção. Mas eu não defendo isso, até porque tal postura iria excluir de protagonismo povos que pouca ou nenhuma culpa têm da natureza de regime das respectivas nações. Aliás, eu sou favorável para que quase todos os estados do mundo organizem Campeonatos Mundiais, Jogos Olímpicos, et cetera. Salvaguardo, contudo, a minha objecção para com um conjunto selecto de estados que eu entendo configurarem um extremo e hediondo perfil totalitário no seu regime político e cujo registo em matéria de direitos humanos é absolutamente desolador. O Qatar é um exemplo. Outros exemplos são os Emirados Árabes Unidos, a Arábia Saudita, o Afeganistão, o Irão, a Coreia do Norte e talvez a Bielorrússia. Defendo esta posição não só por entender que a natureza política destes regimes é insalubre para a deslocação livre e massiva de pessoas de várias origens culturais e nacionalidades, e por ser um ambiente muito tóxico para a prática de um jornalismo livre, mas também porque os únicos beneficiários destes eventos são os ditadores governantes que têm a sua dignidade actorial legitimada no palco internacional.


Eu nunca fui o maior fã de football, todavia, houve uma época em que eu via football, e interessava-me pela actualidade do desporto - assim como pela sua história. Ainda hoje, se ligar a televisão e estiver a ser transmitido um bom jogo de football, eu sou capaz de me entreter. Campeonatos Mundiais e Campeonatos Europeus de selecções sempre foram as épocas em que eu mais gostei de football. Este Mundial é o primeiro em toda a minha vida que eu não irei acompanhar. Por minha vontade, ainda não vi quase nada deste torneio. É o meu pessoal e insignificante boicote, e é o boicote que eu gostaria ter visto muitas selecções a aderirem. Todavia, devo agradecer especialmente às selecções da Alemanha e da Inglaterra (selecções de que eu sempre gostei muito) por se terem comprometido com o protesto e por não terem arredado pé de causas que importam. Os anormais que apoucaram a selecção alemã quando esta foi eliminada na fase de grupos nem se quer sabem que a bola é redonda - viu-se como a selecção do Qatar fez história no Mundial a tornar-se a primeira nação anfitriã a não somar um único ponto na fase de grupos, e, no final de contas, é o resultado de se atribuir a organização de um torneio internacional de football a um estado sem qualquer cultura futebolística. Os jogadores iranianos que optaram por protestar silenciosamente contra a sua república islâmica terão para sempre o meu respeito. Que não lhes suceda nada. Já por Carlos Queiroz, não reservo esse respeito. Em 1978, o Campeonato Mundial de Football foi organizado pela Argentina. Foi dois anos antes desse Mundial ter início - bem depois, portanto, do anfitrião ter sido decidido - que houve um golpe militar na Argentina, a liberdade foi abolida, e assumiram o governo ditadores militares de inspiração fascista. Várias federações ameaçaram boicotar esse Mundial. Uma das mais grandiosas figuras na História do desporto, Johan Cruijff, boicotou de facto esse Mundial, tendo recusado jogar perante um regime fascista, e não representou a selecção dos Países Baixos. A História vai-se repetindo. Ontem, como hoje, há aqueles que querem que o desporto seja mais que simples retórica em matéria de inclusão, felicidade e liberdade, e há aqueles cujo amor a esses valores é mais débil e descartável.


Notas finais:


Seria bom que os Media não consumissem tanto tempo com o Football e com as peripécias que constituem a vida pública de Cristiano Ronaldo. Sublinho: não estou a pedir que não cubram a actualidade desportiva da modalidade mais vista e mais influente em Portugal, eu estou a pedir é que não façam disso a primeira prioridade. Muita coisa se passa no país e no mundo para além da bola. No que concerne à pessoa do capitão da selecção nacional, julgo que o que sucede é muito evidente: agora que ele, enquanto atleta, já não tem o rendimento e as capacidades que tinha, o seu péssimo feitio e a sua atitude tóxica para com o colectivo começam a vir muito ao de cima. Independentemente de ser um desportista memorável na História de Portugal, Cristiano Ronaldo, derivado da sua personalidade e mentalidade, não é o mais exemplar embaixador do desporto português.


Quanto aos próximos dois campeonatos mundiais e seus anfitriões, podemos ter a nossa consciência tranquila quanto ao Mundial 2026, organizado entre o México, o Canadá e os EUA (desde que os norte-americanos não insistam em chamar soccer ao desporto) e para o Mundial 2030, apesar da candidatura de Portugal e Espanha - à qual a Ucrânia se atrelou -, julgo apropriado que seja nomeada a candidatura do Uruguai, Paraguai, Chile e Argentina, tratando-se do Mundial Centenário. Afinal, foi em 1930, no primeiro Mundial, que o Uruguai organizou o torneio, tendo a selecção uruguaia, inclusive, saído como a primeira campeã mundial.


Saliento que, sobretudo, o que se discutiu neste texto não foi football propriamente dito (isso está fora dos meus conhecimentos), mas sim as complexidades societais e políticas em torno deste desporto que, para o bem e para o mal, move muitas mentes e multidões… e dinheiros. O football em si já deixou de me interessar há uns anos.


Vernes, 18 de Frimário CCXXXI